domingo, 9 de fevereiro de 2014

O PRIMEIRO HOMEM - IL PRIMO UOMO: adaptação do livro inacabado de Albert Camus

Em que reside o absurdo do mundo? Nesse resplendor ou na lembrança de sua ausência? Com tanto sol armazenado na memória, como fui capaz de apostar no absurdo? Isso provoca o espanto de algumas pessoas que me rodeiam; também eu sinto-me surpreso em certos momentos.

Albert Camus

Numa coprodução entre França, Itália e Argélia, Gianni Amelio adapta ao cinema o livro póstumo de Albert Camus que retrata uma viagem de cariz autobiográfico do próprio autor. Albert Camus estava trabalhando neste livro quando um acidente automobilístico lhe tirou a vida em 1960. A obra retrata a Argélia e a infância do autor e explora temas como o absurdo da morte.

Regressemos à Argélia dos anos 50, onde franceses e árabes se debatem pela liderança do país. Ao país regressa Jacques Cormery, um dos mais reconhecidos escritores da época. O filme viaja ao passado e retrata o crescimento do escritor, proveniente de uma família humilde e que a inteligência vai levar mais longe.

Toda a ação da infância é mostrada de uma forma bela, a um ritmo fluido e que dá vontade de acompanhar. Sentimos uma identificação natural com a criança que foi Cormery e vamos percebendo a sua identificação para com o país, que no presente é posta em causa.

Depois voltamos ao presente e a um território em que as diferenças culturais se transformaram numa guerra entre povos. A Argélia é um país onde todos lutam pelo valor de uma pátria em que acreditam, independentemente do que isso possa trazer. Cormery, que estava ausente em França, é encarado como um estrangeiro, contudo o escritor cresceu argelino e sente-se argelino. Jacques Cormery vai ter de provar aos outros, mas acima de tudo a si próprio, a sua ligação à terra que o viu crescer.

A nível estético, o filme não merece outra palavra que não seja genial. Todas as cenas são compostas de uma beleza visual como há em poucos. A forma crua e real que traz vai desde a infância à guerra que se encontra em aberto nos anos 50. Cada cena é pensada e filmada ao pormenor, com detalhes que mostram a excelência do filme.








quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Tolstói - Pacifista e Educador


Com uma vida pessoal conturbada e personalidade intrincada por referências literárias e místicas, Tolstói aproximou-se, naturalmente, de uma posição pacifista, anarquista e misticismo libertário recusando toda forma de governo e poder. Para complicar, foi perseguido e excomungado pela Igreja, seus últimos anos foram de engajamento social. Seus escritos impetuosos influenciaram o surgimento de grupos e uma corrente de anarquismo cristão, reinterpretou o cristianismo de forma singular, aproximando-o de uma perspectiva anarquista. Em sua crença, o homem só deveria obedecer a sua própria consciência, através do autoconhecimento. Desse modo, Tolstói idealizou a formação de comunidades agrárias, onde prevalecesse a igualdade, o amor e a solidariedade.
 
Engajado como militar nos anos 1850, sob a influência de um irmão, em Sebastopol, escreveu, nesse período, contos que revelam sua visão da guerra com algo irracional, capaz de mostrar o melhor e, especialmente, o pior da humanidade.
 

Depois de ter residido em Moscou e Kazan e frequentado dois cursos universitários - Línguas Orientais e Direito -, ambos abandonados apesar do bom rendimento, fundou uma escola na pequena propriedade rural de Iásnaia Poliana.

A questão escolar na Rússia foi um preocupação constante de Tolstói a ponto de ter afirmado, numa de suas cartas, que poderia morrer em paz se duas gerações de crianças russas aprendessem as primeiras letras nas cartilhas que escrevera, das quais receberiam também as primeiras lições poéticas. Depois de procurar se informar sobre métodos educativos,
fundou em suas terras uma escola, destinada aos filhos dos servos da Iasnaia Poliana. Nascia uma experiência absolutamente nova, livre de vícios autoritários da educação do século 19. Tolstói tornou-se, assim, um marco para o pensamento pedagógico progressista.  Pode-se perceber que o russo foi um ferrenho defensor da liberdade no processo educacional, pois acreditava que somente ela é capaz de desenvolver a personalidade do aluno, o seu lado criativo e de fazê-lo tornar-se até mesmo o próprio tutor.


Por Claudio Castoriadis
Imagem: fonte web

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Recordações da Casa de Amêndoa

As árvores e flores, as espigas de trigo e as moitas de avelã falavam comigo,
 cantei com elas suas canções e elas me compreendiam,
 exatamente como lá em casa

Sonho de uma Flauta; Hermann Hesse

Confinado, no difuso e desconfortável prazo de validade, o garoto faz de um todo, algo infinitamente vago. Desde que o universo abafou seu firmamento, debaixo daquela amêndoa, o mundo, sua tenda, da qual milhões de dilúvios encharcados consolidam um ribeiro intercalado; improvisa belas declamações bagunçadas da seiva que inunda os cantinhos do seu paraíso. Sua tenaz sensatez desabotoa sonhos com Alzheimer que dão vazão ao clarão da estrela arrancada do seu ninho reaprendendo a voar, caminhar nos trilhos alinhados no chão onde desenha outro espaço qualquer.

Como tudo começou? Como alguém chegou tão longe? Quando o dia sucedeu a noite, um segredo desmontou um vilarejo, cadenciando e cuidando, terá sido assim? Sucedeu - se dessa maneira? Um dia antes do fim, começando retrocedendo, confessando-se no conto, aceitou um pensamento, semente de crônica, clonado no intervalo do vento bambolento?

Seja metáfora, mentira
chafurdada, o garoto minguou para um mundo silencioso e alheio, onde o sol parece que foi escanchado no céu delgado, as nuvens foram varridas, o calor pega um resfriado espirrando nas horas cotidianas, flores são pássaros que brotam com um erguer de ombros, nesse lugar, as bobagens alçam vôo pintando de alegria as praças colorindo os velhinhos. O garoto vive brincando com suas dúvidas, todo dia se perde contando os dedos, muito provavelmente seus brinquedos brincam com o seu coração e na casa de amêndoa suspira sua oração plantada ao pé da roseira beijada por engano pelo lerdo que tencionava beijar uma flor. 


Por Claudio Castoriadis
Imagem; fonte web

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Memórias Póstumas de um Cigarro


A reflexão diante da cinza de um cigarro, é algo triste. Tomado como andrógino instrumento de alívio, desponta entre os dedos queimados um modelo de uma vida tranquila e delicada, digna do seríntimo que floresce da nicotina nas veias do corpo cinzeiro. Na sedução das imagens literárias trafegando na fumaça baforada, criamos um mundo calmo e pacífico, de vez em quando faz-se presente um pranto de tensão; característica polêmica do fumante solitário, tragado pelas circunstâncias atenuantes da vida. Pensando bem, respirando, inspirado  nessa fumaça, polaridades e divergências do mundo se concentram na ponta de um cigarro. Basta aquela tragada, o destino da vida é verticalidade, queimar-se para cima, ao alto. E tornar-se piúba, quem sabe uma bituca. Ser um cigarro é realmente uma coisa triste, fundamentalmente sem sentido. À proporção que somos tragados, os caminhos vão ficando curtos, o gosto mais amargo, e, antes de chegarmos ao fim, perdemos tanta coisa de nós mesmos, de tanto e tanto somos despojados, das nossas substâncias. Por sorte, sou o último da carteira, com orgulho o cheiro do mal acordado, sim, também sou o perfume barato com que os miseráveis tentam disfarçar suas dores e odores.



Por Claudio Castoriadis
Imagem: fonte web

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Crise existencial de um palhaço sem pão, circo e paçoca


Para um bom entendedor, um pouco de silêncio basta. É quase uma máxima, ou proposição da boca de quem cala quando o dizer descarta uma pressa por legitimar suas reviravoltas e revoltas do cotidiano. Sei bem ( duvidando) dessas coisas que resvalo em segredo - apenas eu, outrem, outro eu - compreendo minhas escolhas. Paratriquiando uma breve problemática - eu escolho? Ou a escolha me escolhe? Não tenho propriedade, mas, sou privatizado, meus sentimentos foram plastificados, colonizados, liquidados em liquidação, estou na rua, a rua é um caminho público, mas, não tenho público? Falta uma lar pra reformar, reforma agrária não é piada pra ser contada, essa conta tem valor, os grilhões da minha graça, a tenda da minha existência.


Debaixo desse sorriso falha uma gargalhada, uma comoção, diálogo prodigalizando: uma conversa em ação seria conversação? Sou personagem coadjuvante, um figura falando água molha o nome malhado? De onde vem o discurso volta a confusão? Confúcio era confuso? Incongruências acotovelam dúvidas. 

Eu sou um palhaço, assim eu sou, assim me acho, sou eu aqui falando, sou eu pensando, quando não estou, ausência, quando sou, vou sendo, na verdade eu já era eu antes de ser quem penso - matutando, pipocando acrobacias na mente, pinçando no picadeiro, sou eu o dia inteiro, pedaço, um palhaço, doando colo ao agradável, unindo o útil ao  biodegradável,  fazendo chover estrelas-do-mar, constrangendo do sol o seu brilho cor de marmelada, embrulhando divertidamente devassidão gráfica. 


Por claudio Castoriadis
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terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Ser-com-os-outros


Você tem certeza de quem é você? Até aqui tudo bem, quanto aquele? Sim, o outro que não é você? Não seria você retrucando outro que não seja sua pessoa? Complicado né verdade? Problematizar um mundo (pessoa) exterior da sua zona de conforto.

Ao mesmo tempo que temos o advento da modernidade, instaura-se a era do sujeito pensante, ( penso logo existo, existo logo sou) patente sobre a qual se erigiria todo e qualquer conhecimento objetivo. Inaugurado por Descartes e, ainda, prevalecente até os dias atuais, a noção de um eu como agente imparcial donde brotam todas as proposições acerca do mundo, pode ter custado um preço relativamente caro para toda a humanidade.

Pode-se dizer que são motivos como esses que conduziram o pensamento contemporâneo por caminhos inusitados. Com isso, instaura-se na contemporaneidade, a era dos dicotômicos.

O pensamento deve de outro modo se conduzir. Para tal, questões como os limites do pensamento científico, o alcance, sentido e formação da linguagem e, não diferente, a figura do outro, tornam-se centro vital de todo discurso. Dentre essas, destacamos como referência de nosso discurso o problema do outro.

Sabe-se que desde os primórdios da humanidade, a figura do outro é apresentada como elemento indispensável na construção de qualquer forma de organização social ou política. Em breves palavras, não existem eus sem outros.

A transformação do seu "eu" social não pode ser examinado adequadamente sem visar com igual perspicácia o conhecimento do outro. Entretanto, somente na contemporaneidade torna-se, o outro, o centro de uma investigação filosófica, não mais se recolhendo à condição de subentendido ou pressuposto para outras questões.


 
Por Claudio Castoriadis
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Celular


Carregador que carrega um celular
Não carrega a dor de quem espera
Uma chamada.


Por Claudio Castoriadis
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sábado, 25 de janeiro de 2014

Alhures por entre algures


O loucura fala
Pelos moveis da casa,
No criado mudo da sala
Zela e alumia os caminhos


Passagens que nos fascinam
impressionável pergaminho

Grita uma montanha de estalactites,
Ondas sonoras de estalagmites;
Intimidade, delineada no vazio,
Vasto vislumbre,
Transcendência do nada,
Que pode ser algo, outra coisa,
Coisa linda de se ver

Alhures por entre algures
Córregos perfumados
Por penumbra e clarões:
Faz-se presente
Na ausência do principio
Que o verbo traga do advérbio
Uma oração vicissitude do cuidado



Por Claudio Castoriadis
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sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

O mar, o barco e a torneira

Com poucos barcos se faz um mar, talvez bem menos, quando se aprende que todo prefácio criacionista da margem para outro começo evoluindo, um mar inteiro, aberto para um passeio, dilatando, matutando o que advém da imagem representação encabulada nos meandros do azul candente azulado com os peixes no incauto dos passos, dinâmicos aflorando orvalhos incandescentes no então oceano; deleitemos reverberando a luz do dia. Visto de cima o mar parece um aquário encalhado, as ondas emaranhados na rede, o cais lembra um alambrado abarrotado de peixes dourados; visto de cima tudo é tranquilo, até chego a pensar no que tinha esquecido, pessoas, veleiros, barcos a vela, pensamentos, tecidos, lembranças e ruídos.

De longe, o mar parece maior, de perto muito maior, grande imensurável, incomensurável na medida do limite do meu pensamento, à deriva, peregrina, o perigo que periga encaixotado sem rumo, na pior das hipóteses, escava, chacoalha um bocado, com circunspecção as águas - não se pode falar quando se aprofunda ralando nas camadas necrológicas, alcaloides.

De uma torneira pinga um dilúvio, choradeira marinha, tartaruga e submarino; peixe saboneteira, tubarão fora d’água, volta e meia meia volta, volver -  Quatro, quinto de todos os cilindros no silêncio galopado por cavalos marinhos. O tempo é laçado numa pedra ancorada, outrora não é, não será, do passado não passa; pessoas são nadadoras e somente vida, nada de dores.

Por Claudio Castoriadis
Sobre o Autor:
Claudio Castoriaids Claudio Castoriadis é Professor e blogueiro. Formado em Filosofia pela UERN. Criador do [ Blog Claudio Castoriadis ] Tem se destacado como crítico literário.Seu interesse é passar o máximo de conhecimento acerca da cultura >

Reflexões de uma goiabeira


Quando a noite cansa de segurar a lua, faço de bom grado, do meu pensar uma cartolina, onde se deixa, e se arrisca um rabiscado de linhas vesgas, uma casinha com cerquinha, pontes, vilarejos, cachorrinhos, gatos, patos, galinhas e pintinhos que lexotam pessoas, amigos e vizinhos talhados por um atalho arranjado com estrelas, constelação de cores, um vasto céu de areia onde a lua pode brincar, minguar e migrar.

Existir é ser bem mais que um potinho, recheado de afetos, ternura, açúcar, adoçante, café, cafeteira, lanche, merendeira; ser alguém não é ser a mesma coisa durando a vida inteira, seja figura, figurante, álbum de figurinha amassado no envelope.

Eu poderia ser real, certamente sou um conto proseado; outrem, fulano ou sicrano um sonho de alguém esquecido no travesseiro. Metade, reta, metalinguagem, esquadro, sou um sonho, parte integrante do processo artístico e infantil da minha existência, ser ou não ser - essa não é a questão, um tantinho inquestionável desacerto, referencial que anda desajeitado informal.

A quem interessa, a natureza do sonho adora se esconder, debaixo das folhas da goiabeira, no sorriso abirobado, na primeira camada do rímel do cílio clareado de beleza, rodopiando na sopinha de letrinha, no segundo sono velado pela clareira de uma vela que deseja nostálgico um futuro sonolento.

Ah, saudades, de quando eu era apenas uma goiaba, gabiroba, guariroba; hoje parodiado, parafraseado, aliterando, sou a sombra do sonho aliterações de uma goiabeira. 



Por Claudio Castoriadis
Imagem: fonte web
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segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Soletrando Falácias


certas incertezas sazonam falácias
certezas soletrando suas dúvidas
duráveis, indubitáveis, duvidáveis

depois dos pais temos os filhos
outros papais mães e irmãos

tocando o toque de recolher e recolher semente
pra recomeçar, erguendo outro mundo pra gente

se refazendo circense, despropósito propositalmente
amanhecendo, cambiando, aliterando, andrajoso
na grama fidalgo gramática no ribeiro e grinalda




Por Claudio Castoriadis
Imagem: fonte web

Sobre o Autor:
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terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Dentro de uma caixinha


É triste viver e ver o fim começando
De vez em quando, em poucos mundos
Projeto, contemplo uma pouquinho
Vacilando e oscilando, acreditando
Que o ontem desata no hoje
Que o futuro de longe é perto

Deixo a sorte me acertar
Um pensamento repousar
Na palma da minha mão
Ciciando uma oração
Canção que ressoa
A fala interior de dentro
No centro,
Nadando nos córregos
Do chão que chove 
Não molha, nem respinga
Um pingo, um ponto no acento
Onde senta seu perfume


E quando a tristeza chega
De mansinho
 Manhosa feito borboletinha
Minha poesia concreta
Se faz líquida nos meus olhos
Apertados, dentro de uma caixinha
Onde guardo brinquedos,
Ruguinhas, meus pecados
Com lencinho de neon.


Por Claudio Castoriadis
Imagem: eu mesmo
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segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Rodrigo Amarante: pegada romântica, amparando no desamparo do tempo


Instigante essa pegada romântica, amparando no desamparo do tempo, piegas no bom e vistoso sentido melancólico chique. Gosto do Rodrigo Amarante, por isso, isto e aquilo. Suas canções estão ligadas à ótica pessoal, bem pessoal mesmo, propriamente dito. Falar em batida inter-caixa-sonora, significa observar a fase sartreana que ele anda passando. Verdade, ele sempre está nesse retrato. 

Rodrigo Amarante, liberou na internet o seu primeiro álbum solo, Cavalo. As músicas podem ser ouvidas gratuitamente, basta chegar e da uma embaixadinha via streaming ou pelo iTunes.



Por Claudio Castoriadis
Imagem: via web

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Ana Larousse: o fenômeno dos sentimentos se confunde com o fluxo da música.

Muitas sardinhas, alergia a gatos, lavanda pela casa toda e uma coleção de coringas de baralho. Sempre sonho que a Gestapo está vindo me prender, tenho medo de avião e de multidões, é difícil me tirar de casa, gosto de viajar sozinha, não leio jornais porque não sei lidar com notícias feias. Bebo chá o dia todo, acho maluco existir, gosto de desenhar janelas e nuvens, já tive banda punk, guardo palitos queimados de volta na caixinha e sou doidinha por mapas e dicionários. Coleciono tempestades, vulcões e histórias de amor.

Desde pequena, eu guardava minhas bagunças em cadernos e mais cadernos. Fazia de cada dor e sorriso um poema. Comecei a estudar violão aos 10 anos e, em bandas de rock, comecei a jogar meu mundo em canções. Aos 19, deixei os gritos nas garagens de Curitiba para cantar baixinho lá na França. Foi na melancolia que carrega cada rua de Paris, que eu encontrei suavidade e leveza para cantar minhas ausências.


Ana Larousse

Até em uma sua apresentação, a cantora não faz economia de gotículas sentimentais revelando em cada linha do seu pensamento a brandura que desbrava uma beleza que apraz sua pequena, longa, vistosa trajetória.

O fenômeno dos sentimentos se confunde com o fluxo da música. Talvez, poderia ser assim, mais seguro perguntar quando a estética musical retratou um sentimento, aquele sentimento - uma bolha de afetos. Não sei definir a prosa da Ana Larousse; um pedaço compartilhado da sua voz não tarda para um discurso poético, já que, restituindo os pontinhos aqui, outros bem lá, ela esbarra de mansinho nos versos designados para fazer pirraça com o sentido primário da linguagem.

Com a palavra ou seria com a poesia? Melhor, tudo e mais coisas interligadas. Todo mundo pousa um sonho antes de ser sonhado, um tempinho, instantes antes de deitar a alma. Esses detalhes a poetisa lida com ternura e travessuras. Significante e significado trabalhado com charme.
 
Pode ser que essa resenha tenha uma verve utópica; construida por uma mente primitiva - ainda em formação - que ainda toma o susto com o brinde da vida; ou talvez lembre uma oração auto biográfica, mas, as palavras são assim -  dançam de acordo com a música.

Fica a dica, indicada para a limpeza do espírito



Por Claudio Castoriadis
Imagem: fonte web
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sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Versos para dois na mesma geladeira


Fico feliz por não acreditar em muitas coisas; cético de mim, sei que pouco nada sei o que deveras importa, as coisas são cafonas, as coisas estão fora de moda, de modo que o sentido não está nas coisas muito menos comigo. Não tenho tempo pra pressa, as coisas são apressadas, apertadas e empacotadas num conjunto infindável de mundos mundanos percorrendo o pequeno universo piegas fracionado numa eterna luta dos inversos.

Certas coisas são assim, coisificadas. Prefiro as simplificadas, os brotinhos, das sementes de alecrim, é meigo a força das sementes que um dia serão douradas, perfumadas. Caminhar no céu é um barato, sentir as pontinhas dos dedinhos esfriando, gracejando os pelinhos ventilados pelo vento, que sopra a leveza do pensamento pelejando contra o cimento do sentido, colegas dos outros sentidos contidos no meu cantinho que tem palmeiras onde canta um sabe lá.

Não uso gravata, antes açúcar com jasmim escutando uma flauta doce depois de um chá, de cadeira, mesa, casa de areia, cantiga popular esparramada embaixo do edredom, versos para dois na mesma geladeira. 




Por Claudio Castoriadis
Foto: minha gatinha
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quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Para Elisa (Für Elise)

Olhos para ver a chão
Que apazigua a retina;
Sente-se escorrer
Cá p’ra lá
Voltar e torna.

Alegria: és tu uma força, que gira sobre si mesma
Faz a terra girar, ressoa nas estrelas; inflando-se
Com a mesma destreza, bendita unção, paralisa
Uma mente que não escapa do jugo em comum
Convosco.

Liberte-se, idade do tempo no tempo
Céu da boca pra fora; cálice acabado
Um mundo desbordante de bendições.



Por Claudio Castoriadis
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sábado, 4 de janeiro de 2014

Uma breve consideração sobre a vida


Acredito e sinto que cada partícula da vida é maior que qualquer dor, sofrimento e desamparo. Devemos capturar, acolher, acreditar nas formas da existência. Não somos precisamente ligados nessa frequência?

Estamos aqui para pensar, vivenciar aquilo que continuamente inspira a vida. Todos estamos em processo de situação; situarmos um firmamento para o ciclo que marcha todas as circunstâncias. Toda força para aqueles que sabem deixar a vida generosamente acontecer, ser. Antes de qualquer coisa abençoando-a.

Vida; ao mesmo tempo incompreensível, chocante, enigmática. A vida suspende o obscuro, indeterminada, poeticamente circunscrita e sagrada - inesgotável. Sem fim nem começo o encantamento é aquilo que devemos sempre abençoar.

O sentimento de luto pode até ser cortante, mas, temos que seguir caçoando, proseando e amando o momento das nossas flores nesse jardim no tempo.  




Por Claudio Castoriadis
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quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

A noite que Iran Willame em 2002 roubou a cena no antigo Calimar com bastante carisma e vibração. Primeira apresentação da Banda "Dona Neta" no Festival promovido pela 96FM


A primeira apresentação de uma banda geralmente faz jorrar uma adrenalina amplificada nas veias dos integrantes. Plateia gritando loucamente, como se sua vida dependesse daquilo. Era um festival, muitas bandas selecionadas; tínhamos conseguido pela primeira vez! Em nossos rostos havia um sorriso estampado. No camarim, minutos antes da nossa apresentação eu, cabelo crespo, semblante sério, fechava os olhos para me concentrar nas letras - nada se compararia, nada superaria a sensação de estar no palco. Também em silêncio o baixista (Jandilson Dias) se encarregava da montagem dos equipamentos, bem no chão se encontrava o baterista, meu primo, já sem camisa, fazendo flexões. "Relaxa primo, vai da certo" falava Iran batendo nas paredes com suas baquetas. Às vezes eu imaginava aplausos, não muitos, mas, o suficiente para me fazer sorrir. Chegando no palco, primeiro acorde, muita distorção, som alto, em seguida nosso baterista roubava a cena, executando uma apresentação profissional, coreografias  versáteis, cabelo solto e jogado no rosto, tudo isso terminando com um sorriso de quem estava se divertindo.

Enfim, o começo de nossas vidas!

Iran Willame ( 1985-2013)


Por Claudio Castoriadis
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segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Robert Kurz e o colapso do sistema capitalista


Considerado como um dos mais importantes teóricos marxistas e críticos do sistema vigente, Robert Kurz exerceu uma influência decisiva na formulação dos novos rumos dos movimentos revolucionários em todo o mundo. Kurz foi um dos fundadores, em 1986, do grupo de discussão Krisis, sediado em Nuremberg, na Alemanha, e que reunia pessoas dedicadas ao estudo e atualização da obra de Marx. O grupo começou a bancar uma revista mantida por meio de assinaturas e contribuições. Em 2004, Kurz rompeu com a Krisis e fundou uma nova revista, a Exit!. Durante os anos 1990, ele publicou diversos ensaios nas revistas Krisis e Exit!. Para realizar o estudo, Regatieri analisou cerca de 10 ensaios de autoria de Kurz, publicados de 2000 a 2003 na Krisis, e de 2004 a 2007 na Exit!

Decretando o colapso do capitalismo, projetado na derrocada do Leste Europeu e passando pelos chamados países socialistas teríamos - segundo o filósofo- uma manifestação de uma crise particular que agora ganha ênfase no sistema mundial produtor de mercadorias.

A crise final do sistema soviético foi apenas um das faiscas do estopim, que levará o mundo a uma crise em cadeia. Não há razão, porém, para desespero. O lado bom da situação seria a possibilidade da emancipação humana, que Marx almejava, que não desapareceu, nem permanece amarelada em seus escritos.

Pelo contrário, as coisas estão acontecendo basicamente como foram descritas. Através da "razão sensível", que se oporia à razão iluminista, a humanidade superará a "sociedade do trabalho", baseada na mais-valia, na exploração do trabalho tornado abstrato, a mercadoria, e na sua abstração maior, o dinheiro. E dessa forma a utopia comunista de uma sociedade sem mercadorias, sem capital nem Estado, se concretiza.

Kurz é claríssimo quanto à sua previsão da crise iminente do capitalismo: "É muito provável que o "mundo burguês do dinheiro" total e da mercadoria moderna, cuja lógica constitui, com dinâmica crescente, a chamada Era Moderna, entrará, já antes de terminar o século XX numa era de trevas, do caos e da decadência das estruturas sociais, tal como jamais existiu na história do mundo".

Teremos, portanto, uma revolução de consciências, que sempre atraiu o pensamento conservador, mas que aqui é estranhamente retomada por um marxista que pretende resgatar o marxismo de sua crise atual:

"Trata-se de uma revolução de fato, mas não daquele tipo no qual uma classe dentro da forma mercadoria (e constituída por essa) tivesse que derrotar outra 'classe'; como sujeito antípoda [...]. Mas para essa revolução, por sua vez, teria primeiro que se formar um movimento de supres-são, como força social, e isto somente é possível por meio da consciência"

Altamente contestador, seu diagnóstico também deixa o marxismo tradicional em xeque.

Segundo Kurz, o marxismo tradicional não teria condição de formular concretamente o problema da crítica da forma mercadoria e seus desdobramentos práticos. Em função disso, o marxismo tradicional se viu obrigado a proceder um desvio para a política. Uma política, não como um dado ontológico, previamente existente, mas como um conceito historicamente limitado que pertence à história da implementação do moderno sistema produtor de mercadorias.

As reformas e revoluções realizadas nesse horizonte converteram os trabalhadores em sujeitos do direito civil, em sujeitos de relações contratuais e em cidadãos modernos. Além disso, elas estabeleceram condições de trabalho modernas, mas não alteraram a essência do sistema de produção de mercadorias.

Ainda sobre o comunismo sua conclusão é aguda: "O comunismo, supostamente fracassado, que é confundido com as sociedades em colapso da modernização recuperadora, não é nem utopia nem um objetivo distante, jamais alcançável, muito além da realidade, mas sim um fenômeno já presente, o mais próximo que encontramos na realidade, ainda que na forma errada e negativa, dentro do invólucro capitalista do sistema mundial produtor de mercadorias, isto é, na forma de um comunismo das coisas, como entrelaçamento global do conteúdo da reprodução humana"
Sobre o Autor:
Claudio Castoriaids Claudio Castoriadis é Professor e blogueiro. Formado em Filosofia pela UERN. Criador do [ Blog Claudio Castoriadis ] Tem se destacado como crítico literário.Seu interesse é passar o máximo de conhecimento acerca da cultura >

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Desperte a dor!

Por medo, a boca se calou,
A palavra não falou,
A lembrança capotou: o sonho foi engavetado
Riscado tombado no armário bagunçado.
A data não tem a idade do tempo
Formado no calendário
Envelhecido o corpo se enverga com o peso da consciência
Falta pouco, quem sabe um dia, menos velocidade, episódio inédito

— Que o despertador enfim desperte não apenas a gente: desperte a dor!



Por Claudio Castoriadis
Imagem: fonte web
Poesia postada originalmente no site Tubo De Ensaio
Sobre o Autor:
Claudio Castoriaids Claudio Castoriadis é Professor e blogueiro. Formado em Filosofia pela UERN. Criador do [ Blog Claudio Castoriadis ] Tem se destacado como crítico literário.Seu interesse é passar o máximo de conhecimento acerca da cultura >

sábado, 14 de dezembro de 2013

Capitalismo: regras para barbárie humana


Considere o seguinte cenário. Ideias modernas, retóricas emancipatórias, confrontos ideológicos, forças, pressões, transtornos que, constroem, destroem e permeiam ações políticas. Tudo isso equivalente ao efeito de nivelamento massivo do pensamento ocidental; uma síntese do impulso inconscientemente cruel capitalista; a contraface das manifestações de junho de 2013 no Brasil. Vivemos numa época propicia para o fardo cultural. A essa retificação devemos ressaltar todo um processo histórico marchando na Europa emergente desde a revolução industrial - o crescimento descomunal das cidades, violência, divisões abstratas, afetos à deriva desatando novos sofrimentos que fluem, flutuam, transcendendo o sentido; na maioria das vezes, tudo com tamanha agilidade que nem sempre conseguimos tomar atitudes sensatas para nos posicionar socialmente. Tudo pode ser abordado como sintoma de uma crise sistêmica da acumulação capitalista.

Apesar de tantas reviravoltas, e isso é importante, o sistema maquinário está longe de desaparecer, é alarmante essa complexa rede de mecanismos entranhada no neo liberalismo. Talvez nesse contexto, poderíamos discernir um horizonte como um "palácio de cristal" - um lugar estranho e esférico - globalização - tal pensada pelo filósofo Peter Sloterdijk.

Nesse monstruoso palácio, os governos não só transformam materialmente a realidade socioeconômica, política, jurídica e social, também conseguem que esta transformação seja adotada como a única saída possível para qualquer crise em larga escala global. Legitimando leis da competição, desencadeando novas formas de organização, valores, tecnologias e artifícios que permitem ao sistema vigente seu autocontrole. Nesse clima evaporam os últimos vestígios de um projeto quantitativo, orientado pelo valor de troca, bem como as estratégias estatais que abrangem um ou mais ciclos conjunturais. A própria pesquisa dos fundamentos é solapada pelos ideais da renda máxima a curto prazo. Quanta engenhosidade escravagista, por meio da automatização esporádica, racionalização e fermentação da globalização, o capital subtraiu de próprio punho o alimento da força de trabalho humano. Em tal circunstância o sistema frenético, ávido de valorização, começa a devorar sua própria carne.

Tempos difíceis onde se leva a sério a monopolização do mercado. Com isso a alienação do mundo instiga um processo mais antigo que seu estado atual. Na verdade, é imanente ao próprio devir da Modernidade. Os modernos, de Rousseau a Max Weber, foram explícitos nesse diagnóstico.

No Oriente Médio, o fundamentalismo islâmico vem se consolidando como uma potente força política. Em outras regiões pós-capitalistas do bloco ocidental, um determinado, esclarecido ou não, socialismo segue obstinado na linha de frente combatendo um batalhão de forças oposicionistas. Recentemente a Ucrânia atravessa por uma fase conflituosa; enfraquecida por dificuldades econômicas, se recusou a assinar um acordo de associação com a UE que previa a colocação em andamento de um acordo de livre comércio alegando que uma crise com Moscou provocaria perdas econômicas ao país. Esta mudança de opinião foi a causa da maior onda de protestos registrados nesta ex-república soviética desde a Revolução Laranja de 2004.

Palco da disputa entre a União Europeia e a Rússia, os interesses europeus, são geopolíticos, explicitamente imperialistas. Uma estratégia para afastar a Ucrânia da influência tradicional da Rússia. Mais uma crise emplacando a redoma  escarnecedora capitalista. Fica a pergunta: a União Europeia tem o direito de interferir nas questões internas da Ucrânia? De crise em crise o capitalismo segue com suas chagas.

Em 1971, Mészários suscitou a questão da crise estrutural global do capital. apontando as mudanças que ocorreram no interior do capitalismo como no sistema pós-capitalista soviético. No caso, o sistema soviético fracassou em sua tentativa de erradicar o sistema do capital. A lição que ficou: não é suficiente expropriar os expropriadores se a dominação do trabalho que sustenta o domínio do capital não for dizimada em sua estrutura e superestrutura, dinamitar o sistema e na mesma medida o encanto do capital.

Mészáros defende que as ideias socialistas são hoje mais relevantes do que jamais foram. Segundo o filósofo, o avanço da pobreza em países ricos demonstra que há algo de profundamente errado no capitalismo ao quantificar certos fenômenos, que hoje promove uma "produção destrutiva". Não se pode negar que a pressão do tempo e os atuais conflitos das situações históricas de hoje tendem a nos desviar do sentido prático socialista. Mas, o princípio orientador de combinar crítica com genuína autocrítica será sempre um requisito essencial.

Malgrado de modo assim grosseiro, o capitalismo, dinamicamente, acaba por ser tão salutar quanto um câncer. Mesmo com esse diagnóstico, sua influência pode obter apoio massivo, como visto recentemente na Ucrânia. Para entender o esqueleto desse sistema efêmero é necessário visualizar o que esta acontecendo na história social e econômica de uma época. É a história econômica que nos dá a chave para compreender todas as crises profundas que se deram até hoje. Na ideologia, utopia, seja religiosa, política ou existencial.


Por Claudio Castoriadis
Imagem: Banksy




Dica de leitura

MÉSZÁROS, István. A educação para além do capital. São Paulo: Boitempo, 2005.
 
KURZ, Robert. (1997) Os Últimos Combates. Vozes, Petrópolis, RJ

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Peter Sloterdijk - reavivando a tradição sofista


Peter Sloterdijk é um dos filósofos mais refinados da atualidade, e, como todo intelectual em evidência, um leque de sentimentos veste e subverte sua imagem. Pensador ativo, autor de livros e artigos para conceituados jornais e revistas alemães. A título de esclarecimento, é fundamental lembrar seu reconhecimento como um dos renovadores do pensamento filosófico contemporâneo. 

Em entrevista à Gaby Reucher do sítio Deutsche Welle, 11-05-2011, ele fala sobre a função do filósofo em nossa época de reviravolta social.

Eis a entrevista.

O senhor tem um programa de televisão, Das Philosophische Quartett, e cada vez mais somos confrontados com a filosofia nos cadernos culturais dos jornais e no rádio. Por que essa área do conhecimento anda novamente tão solicitada?

Não sei se concordo com este seu diagnóstico. Se você pensar no tempo em que autores como Albert Camus ou Jean-Paul Sartre estavam vivos e no ápice da sua produtividade – digamos, nas décadas de 1950 e 1960 – nessa época, pode-se afirmar que a filosofia desempenhava uma função oficial. No momento ela me parece muito, muito marginalizada. Temos um sistema artístico que floresce com força. Temos uma cena cultural jovem que tomou dimensões gigantescas, uma cena de cultura de massa. Na minha percepção, a filosofia só representa aqui um papel decorativo, à margem. É claro que vez por outra se convidam filósofos, mas geralmente só dentro de uma rubrica como "extra" ou "o olhar de fora".

Assim o senhor está apagando o próprio brilho. A tarefa do filósofo, hoje, não é outra? Ele não mais é o escrivão introvertido, que fica meditando de si para consigo, mas sim alguém como o senhor, que vai até o público e é percebido através de suas opiniões sobre política e engenharia genética.

Isso está correto. Mas eu procuro descrever a situação como ela seria, se eu não existisse. No momento, sou a ave rara desse bosque, que assume posições totalmente atípicas. Se observar todo o resto do bosque, a senhora vai ter que constatar que não há muito mais acontecendo. Nos últimos 20 anos, nós – Rüdiger Safranski e eu – fundamos em solo alemão um novo tipo de filósofo não acadêmico, literário. as excluindo nós dois: o que resta, então? Temos um punhado de publicistas que oferecem um pouco de filosofia e, no geral, temos uma filosofia acadêmica. Meio de mau humor, ela vai tocando o seu trabalho, mas justamente sem conseguir completar a ponte para com os questionamentos gerais. Este é o verdadeiro estado de coisas.

Então o que o filósofo de nossos tempos precisa saber fazer?

Acredito que só faz sentido praticar filosofia hoje reavivando a tradição sofista de poder participar de qualquer debate. Quer dizer, precisaríamos de mais formação retórica, precisaríamos reunir nos seres humanos muito mais conhecimento geral de vida, de política, de ciência, de arte. Precisamos voltar a atrair filósofos que sejam decatletas da disciplina teórica.

O senhor também poderia ser conselheiro num tempo de desencanto político, de esgotamento religioso?

Tudo isso abre uma palheta muito ampla de novas competências. Acho que o espectro das opções profissionais nunca foi tão grande para os filósofos quanto hoje. Eles podem fazer quase tudo, desde consultoria de gerenciamento até dirigir um banco.

Mas esse filósofo também precisa saber desenvolver ideias, ou não?

Ele não faz outra coisa. Filósofos são produtores de conceitos, é esse o seu ofício. Eles vivem numa oficina onde se leva adiante o desenvolvimento de concepções que já existem. E essa é a relação interna com a atividade de designer. Pois design jamais significa inventar algo do zero, mas sim repensar mais uma vez objetos já existentes radicalmente – a partir das moléculas, por assim dizer –, de modo que sua aparência possa se transformar de novo. Embora o princípio da utilização, como tal, pareça ter chegado ao grau definitivo de desenvolvimento.

Aparentemente, a maioria dos conceitos num vocabulário genérico já existe há muito. Mas olhando-se um conceito de perto e o reprocessando, é possível dar seguimento à sua construção. Esse tipo de trabalho tem que estar sendo sempre recomeçado. Por isso, vivemos na era do design e do trabalho conceitual: a permanente reinvenção do mundo, partindo do princípio de que ele já existe e ainda assim não basta. De modo que sempre temos uma razão para começar tudo de novo.

Hoje em dia talvez seja necessário achar conceitos e palavras totalmente novos. No momento ocorre muita coisa no mundo – catástrofes como a de Fukushima – que se pensava ser totalmente impossível. Aí geralmente faltam conceitos e palavras.

De início faltam conceitos no sentido em que tudo que é avassalador tira a fala. As catástrofes netunianas vindas do mar, as catástrofes vulcânicas vindas das entranhas da terra: são coisas que desde sempre nos deixaram mudos. Nesse sentido, todo trabalho cultural é um trabalho pós-catastrófico. Há 5 mil anos os seres humanos tentam superar o que aconteceu na época do dilúvio, nessas grandes catástrofes da Idade do Bronze. Todo o processo civilizatório é uma elaboração de cesuras catastróficas. E quando nada acontece durante um tempo mais longo, cria-se essa espécie de calma ilusória da qual estamos sendo convidados a acordar, no momento. Neste sentido, tem-se que dizer que vivemos numa época boa, pois ela contribui muito para o imperativo do despertar.

 
Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/

sábado, 7 de dezembro de 2013

A utilidade da Física Quântica no Ensino Médio


A utilidade da Física Quântica no Ensino Médio se justifica se concebermos a mesma como uma forma de produção cultural do século XX e que, portanto, poderia ser trabalhada. A inserção de tópicos de Física Moderna neste nível de ensino vem sendo defendida por muitos pesquisadores.

Eduardo Adolfo Terrazzan discute a divisão da Física nos currículos, afirmando ser inadequada a nossa realidade, pois a divisão aceita é ditada pelos manuais estrangeiros do século XIX. É inconcebível que um aluno saia do segundo grau sem ter contato com os avanços científicos ocorridos durante o século XX.

A leitura confere ao homem o poder sobre as coisas, um instrumento que constrói o caráter prático do mundo. Quando nomeia, a linguagem tira da escuridão o oculto vital, que permanece anterior a qualquer revelação e que só pode manifestar-se quando o homem dele se apropria pela linguagem.

Segundo o professor João Zanetic não se pode ignorar a crise de leitura no mundo contemporâneo, que atinge de forma dramática as salas de aula, nas escolas de ensino fundamental, no ensino médio e também no nível universitários. O livro didático, muitas vezes, constitui a única forma de literatura presente nas escolas.

Fica então pergunta: estudar Física Quântica no Ensino Médio facilitaria a aprendizagem dos avanços científicos ampliando o rendimento intelectual do aluno?



Física Quântica:

surgiu como a tentativa de explicar a natureza naquilo que ela tem de menor: os constituintes básicos da matéria e tudo que possa ter um tamanho igual ou menor. Em outras palavras, pense o seguinte: tudo o que é maior do que um átomo está sujeito a leis da física que chamamos de “física clássica”. Por exemplo, elas sofrem a atração da gravidade, as leis da inércia, ação e reação. Mas quando analisamos tamanhos menores que um átomo, tudo muda e as regras da física clássica já não valem mais. Foi preciso então admitir que era necessário outras leis para lidar com essa realidade, e também uma física totalmente nova, que ficou conhecida como Física Quântica.


Por Claudio Castoriadis
Imagem: fonte web

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Copinho descartável

Segredos de saboneteira
Perfumando e hidratando
Os cantinhos arrepiados

Cada espaço aveludado
Equilibrando desaguando
O corpo leve evaporado

Pequenos barulhos, uma valsa de gotinhas
Dengando minhas costas... De frente para
O mar gotejando no meu copinho descartável
   




Por Claudio Castoriadis
Imagem: via web

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Stephen King - Under the Dome

Stephen King

Um dos mais notáveis escritores de contos de horror fantástico e ficção, ao lado dos mestres: Allan Põe, H. P. Lovecrafet, Cliver Barke. Seus livros foram publicados em mais de 40 países. Embora seu talento se destaque na literatura de terror/horror, escreveu algumas obras de qualidade reconhecida fora desse gênero e cuja popularidade aumentou ao serem levadas ao cinema

Segundo as suas próprias palavras a grande literatura é baseada em personagens incomuns colocados em situações cotidianas, enquanto faz precisamente o contrário: gente aparentemente normal confrontada com acontecimentos extraordinários!


Under the Dome

Stephen King tentou escrever esse livro ainda na década de 1970, mas não conseguia resolver problemas entre a existência da redoma e seus efeitos climáticos. Agora, com a ajuda de consultores, ele encontrou o caminho certo e tomou decisões específicas sobre como a cidade sofreria as consequências desse fenômeno. Tanto na série quanto no livro, a redoma é intransponível e tem altura muito bem definida. Porém, enquanto no livro o bloqueio do ar provoca um super aquecimento, na série continua ventando, o lago não é atingido e até chove. Toda a ação do livro por conta de todas essas consequências dura apenas uma semana. Na série, um mês se passa e a cidade não sofre nenhum baque climático.


Trama

Era um dia como outro qualquer em Chester’s Mill, no Maine. Subitamente, a cidade é isolada do resto do mundo por um campo de força invisível. Aviões explodem quando tentam atravessá-lo e pessoas trabalhando em cidades vizinhas são separadas de suas famílias. Ninguém consegue entender o que é esta barreira, de onde ela veio e quando – ou se — ela irá desaparecer. Dale Barbara, veterano da guerra do Iraque, se une a um grupo de moradores da cidade para manter a situação sob controle. A força de oposição é representada por Big Jim Rennie, um político que está disposto a tudo — até matar — para continuar no poder, e seu filho, que guarda a sete chaves um horrível segredo. Mas essa não é a única preocupação dos habitantes. O isolamento expõe os medos e as ambições de cada um, até os sentimentos mais reprimidos. Assim, enquanto correm contra o pouco tempo que têm para descobrir a origem da redoma e uma forma de desfazê-la, ainda terão de combater a crueldade humana em sua forma mais primitiva. Sob a redoma é um thriller arrebatador e uma inquietante reflexão sobre nossa própria potencialidade para o bem e o mal.



STEPHEN KING
SOB A REDOMA
Tradução Maria Beatriz Medina
SUMA de letras
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