Em que reside o absurdo do mundo? Nesse resplendor ou na lembrança de sua ausência? Com tanto sol armazenado na memória, como fui capaz de apostar no absurdo? Isso provoca o espanto de algumas pessoas que me rodeiam; também eu sinto-me surpreso em certos momentos.
Albert Camus
Regressemos à Argélia dos anos 50, onde franceses e árabes se debatem pela liderança do país. Ao país regressa Jacques Cormery, um dos mais reconhecidos escritores da época. O filme viaja ao passado e retrata o crescimento do escritor, proveniente de uma família humilde e que a inteligência vai levar mais longe.
Toda a ação da infância é mostrada de uma forma bela, a um ritmo fluido e que dá vontade de acompanhar. Sentimos uma identificação natural com a criança que foi Cormery e vamos percebendo a sua identificação para com o país, que no presente é posta em causa.
Depois voltamos ao presente e a um território em que as diferenças culturais se transformaram numa guerra entre povos. A Argélia é um país onde todos lutam pelo valor de uma pátria em que acreditam, independentemente do que isso possa trazer. Cormery, que estava ausente em França, é encarado como um estrangeiro, contudo o escritor cresceu argelino e sente-se argelino. Jacques Cormery vai ter de provar aos outros, mas acima de tudo a si próprio, a sua ligação à terra que o viu crescer.
A nível estético, o filme não merece outra palavra que não seja genial. Todas as cenas são compostas de uma beleza visual como há em poucos. A forma crua e real que traz vai desde a infância à guerra que se encontra em aberto nos anos 50. Cada cena é pensada e filmada ao pormenor, com detalhes que mostram a excelência do filme.