Contudo, essa concepção ampla encontra resistência em correntes críticas que procuram delimitar o campo literário a partir de critérios específicos. Para Eagleton (2006), literatura não pode ser definida por propriedades intrínsecas do texto, mas pela forma como determinados discursos são legitimados social e historicamente como “literários”: “a literatura é, antes de tudo, uma categoria culturalmente construída, cuja definição depende do contexto institucional que a nomeia” (EAGLETON, 2006, p. 9). Essa abordagem desloca o foco da essência textual para os mecanismos de consagração e validação cultural.
Em outra perspectiva, Barthes (2004) concebe a literatura como uma prática discursiva que se caracteriza por subverter o uso habitual da linguagem, instaurando um regime próprio de significação. Para ele, “a literatura é a linguagem carregada de sentido, não porque diz algo, mas porque é, antes de tudo, escrita” (BARTHES, 2004, p. 48). A ênfase aqui recai sobre a materialidade da linguagem e sua potência simbólica.
Há, ainda, abordagens que associam a literatura à sua função estética ou ficcional. Jakobson (1973), por exemplo, considera a função poética como definidora da linguagem literária, na medida em que esta foca na mensagem em si, explorando a forma do signo e sua organização interna. Nesse sentido, a literatura se distingue de outros discursos por sua vocação estética e pelo trabalho formal sobre a linguagem.
Dessa forma, a definição de literatura oscila entre concepções essencialistas e construções socioculturais, revelando-se como um campo em constante disputa e reformulação teórica.
Claudio Castoriadis
Referências:
BARTHES, Roland. O grau zero da escrita. São Paulo: Nacional, 2004.
EAGLETON, Terry. Teoria da literatura. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
JAKOBSON, Roman. Linguística e comunicação. São Paulo: Cultrix, 1973.