quarta-feira, 1 de novembro de 2023

admirar como ninguém nunca desconfiou

Mas isso foi já há muito tempo, e entretanto aprendi a lidar com o tempo e aprendi a fazer películas em redondilha maior
E a admirar a beleza do percurso e o significado dos signos
Do campo harmônico 
Do homem dos ratos 
E a admirar como nunca ninguém desconfiou da pontuação 
Da gramática
Do lado das palavras 
Das páginas em branco
Por onde anda a foto mais bonita 
Do meu álbum 
nos transportes públicos
não encontramos essas tranqueiras
Foi dito também em pedaços 
de tablaturas
de pedaços 
de cafés 
de pedaços de cidade
No infinito aglomerado de caixotes varandas marquises e sirenes de ambulâncias que desaparecem
Uma crise de ansiedade na loja de conveniência
No mais,  devo aos outros minhas dívidas
perdão pelos meus olhos
o luto seco
na vala, ruidosa
a magreza da carne viva
É possível contar os ossos abrindo feridas na superfície
Escutar o vislumbre da lâmina cortando o assunto
Pairando como uma entidade por entre as prateleiras depois da meia noite
E o delírio de algumas moedas e nenhuma nota
E voltei ao meu andar
Estava em longe e desejei
Por uma vez só
Estar à sombra da fúria divina 
Nos tuneis de Gaza.
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