Acho meio improvável falar da
trajetória da produção literária Latino Americana se deixarmos de fora um marco que foi
um estouro - no amplo sentido da palavra - para seu florescimento contemporâneo:
O denominado “boom”. Uma palavra exótica com sentido, caliente, por descrever
um fenômeno de efervescência artística, momento que o Brasil desperta de forma
mais efetiva para a troca literária com seus vizinhos, tentativa que fora
esboçada no início do século XX com os simbolistas e nossos primeiros
modernistas.
Apenas lembrando, O boom da
literatura latino-americana aconteceu nos anos 60 do século passado, momento em
que surgiu – estourou – a narrativa de nomes como o argentino Júlio Cortázar
(1914-1984) e o colombiano Gabriel García Márquez (1928-). Para muitos
intelectuais, o boom não foi apenas um fenômeno comercial, mas também a
oportunidade de apoiar decididamente as revoluções e os projetos socialistas na
América Latina. Nesse período, foram produzidos vários livros de alto valor
literário que ganharam projeção internacional.
Para Vargas Llosa, os anos
sessenta foram de reconhecimento da América Latina, pois o continente passou a
figurar no centro da atualidade graças à Revolução Cubana, às guerrilhas e aos
mitos que elas puseram em circulação.
O escritor cubano Roberto
Fernández Retamar (1969:41) afirmou certa vez que o boom da literatura
latino-americana ─ cujos beneficiados nem sempre pareciam conscientes disso ─
era uma consequência direta da ―Revolução de Fidel Castro e Che Guevara‖. Para
Cortázar, que tinha uma visão particular sobre o boom, esse fenômeno não foi
feito pelos editores, o fizeram os leitores e isso para ele ―foi um feito
revolucionário na América Latina‖. Essa foi a primeira e formidável tomada de
consciência coletiva em todo o continente sobre a existência de si mesmo no
plano intelectual e literário.
Pulando um pouco alguns
acontecimentos que se seguiram chegamos nos anos 70, onde a produção literária
da América Latina ganhou seu espaço no amplo cenário mundial.
Nessa época Gabriel Garcia
Márquez com seu Cem anos de solidão iluminou com toda sua elegância nosso
continente dando visibilidade a uma literatura, ao mesmo tempo singular, e inovadora, que encontrara nos anos 60 seu
formato.
De qualquer forma chegavam,
enfim, às livrarias de todo o mundo – e às brasileiras – escritores já
consagrados em seus países, alguns exilados. Assim, projetam-se os cubanos
Alejo Carpentier, teórico do real-maravilhoso, Lezama Lima, mestre do Barroco,
cultores do fantástico e do absurdo que trilharam o caminho aberto por Jorge
Luiz Borges e Julio Cortazar. Carlos Fuentes, tendo a cidade do México como
grande protagonista, influencia o pensamento político.
Resumindo, o boom legitima
criadores que há muito já não deviam precisar disso, como Guimarães Rosa e
Otávio Paz já tinham comprovado.
No entanto, a América-Latina,
ainda vivia os anos de chumbo das ditaduras militares, a falta da liberdade
democrática, a censura, as perseguições dificultavam o debate.
Em meio a perseguições e
censuras chegamos nos anos 90, onde foi restaurado o regime democrático - pelo
menos na teoria - e normalizadas algumas condições de criação cultural, tem
início o balanço crítico que acontece ao mesmo tempo em que se cumpre o que foi
chamado de luto pós-ditatorial. Surge então a “Literatura pós-Ditadura”. Os
grandes mestres do boom vão desaparecendo, com os limites da vida retirando do
campo cultural grandes criadores. A realidade latino-americana vai se
modificando- continuando descontinuando?- inserida num mundo que caminha a
passos largos e desiguais para a globalização.
Bibliografia:
VARGAS LLOSA, Mario. Diccionario del amante de América Latina. Barcelona: Paidós, 2006.
RODRÍGUEZ MONEGAL, Emir. Una escritura revolucionária. Revista Iberoamericana, v. 37, n° 76-77, julio-diciembre, 1971
Imagem: fonte via web
Por Claudio Castoriadis
Claudio Castoriadis é Professor e blogueiro. Formado em Filosofia pela UERN. Criador do [ Blog Claudio Castoriadis ] Tem se destacado como crítico literário.Seu interesse é passar o máximo de conhecimento acerca da cultura > |