terça-feira, 29 de outubro de 2013

Maria João Pires: talento e autoconfiança


O que fazer quando o redor torna-se subitamente desconhecido e você não sabe mais que direção tomar? Em momentos de instabilidade, confiar em si próprio é fundamental. A pianista portuguesa Maria João Pires deu um dos grandes exemplos de superação de dificuldades e autoconfiança em 1998, quando percebeu, no palco, que havia se preparado para tocar a música errada e não conseguiria acompanhar a orquestra. Foi em um ensaio aberto em Amsterdam, sob regência de Riccardo Chailly, no "Concerto N.20", de Mozart. Quem estava presente percebeu os momentos iniciais de desespero da pianista, os breves comentários com o maestro, a tentativa de lembrar-se da partitura correta e o sucesso na execução. Ela deixa evidente seu temor, diz "Vou tentar" e Chailly incentiva: "Tenho certeza que você consegue". Maria João tocou então o concerto certo, sem um erro. Nada como uma voz de incentivo para ajudar na reconexão com todo nosso potencial. 




Ainda sobre Maria João Pires:


Nasceu em Lisboa em 23 de Julho de 1944, em Lisboa, na freguesia da Pena. Começou cedo a tocar piano. Estudou com o Professor Campos Coelho no Conservatório de Lisboa. Depois foi para a Alemanha, estudou com vários professores de música. Tornou-se conhecida internacionalmente quando ganhou o Concurso Beethoven no bicentenário do compositor, concurso que se realizou em Bruxelas em 1970. Fez várias digressões artísticas, foi convidada a tocar com as melhores orquestras sinfônicas da Europa e dos Estados Unidos. Especializou-se em Bach, Mozart, Beethoven, Schumann, Schubert.

Uma carta que não deveria ser lida


Não sou alguém aqui quando fiquei em outro lugar com meia dúzia de respostas - onde imaginava ter um ar para respirar. Já faz um tempo, incerto tempo na música acelerada da história, entre papeis, palavras, roteiros, consciência, consistência de vida.

Será que eu parei, naquele tempo? Suspenso, sem cor, objeto se decompondo pelos cantos, amparado pela palavra, o silêncio? Por certo a vida afetou meus glóbulos oculares, nervos óticos e boa parte de qualquer alçapão da memória.  

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Como chegamos até aqui no centro de um furacão ácido e corrosivo de olhares, direções, incertezas, valores, costumes, realidades invertidas, conflitos de interesses. E o sentido onde se escondeu? Cego para o mundo, não tenho respostas para tantas perguntas. A mim me preocupa saber como manter a fé para outras sensações.

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É triste não encontrar o caminho de volta, para o sentido. Destarte sinto semelhante desejo nas pessoas como nota cômica cantando seus sentimentos, no fundo, talvez na superfície, todos querem um sentido. Com a ressalva, nem sempre consigo entendê-los; me conforta saber da minha consciência- consciência da vida, consciência do mundo- penso, demoro, logo vejo uma sombra- cada corpo com sua sombra - abismos detalhados estampados em rostos. Esconsos e masmorras, vejo tanta gente se escondendo em palavras regando cada letra até vingar um palavrão, criatura ainda em formação. Por vezes implicitamente, tudo, tragicamente tudo ( O bastante que me pertence)  é meu e conservo como um segredo, um pouco do imenso pedaço que rasguei da realidade como uma carta que não deveria ser lida. Quando falo, penso, respiro, interminavelmente o futuro permanece indeterminado

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Tempo
Longa metragem
Vida, sem edição no formato: 
 Aos vivos, em cores, online.

Por Claudio Castoriadis
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