A ópera Parsifal de Richard Wagner voltou na voz do carismático tenor alemão Jonas
Kaufmann.
Parsifal, a última ópera do compositor alemão, desenvolve-se em
redor do Santo Gral, conta uma história complexa e mistura elementos
filosóficos, éticos e religiosos. Um drama místico que fala do “inocente
herói de coração puro”. Como diz Jonas Kaufmann: “Se começarmos a
mergulhar em todas essas camadas acabamos por nos incendiar. É algo
fantástico e único, como uma viagem transcendental, uma experiência
muito misteriosa.”
Vida própria
“Wagner é como fazer ioga – o auto controlo é tudo”, disse o maestro
israelita Asher Fisch, que conduziu a orquestra nas últimas duas
produções: “Em Parsifal, há que se aceitar, o ritmo interior da peça
provém de uma tranquilidade completa. É como tentar baixar o pulso e a
pressão sanguínea para fazer a música falar a língua certa, e é um
processo muito difícil.”
Kaufmann acrescenta: “É uma experiência muito filosófica e faz-nos
pensar no falhanço da humanidade, e no que poderia acontecer se o homem
seguisse a ideia “de que o tonto, que nada sabe, acabará iluminado pela
piedade e misericórdia que sente pelos outros”. Se formos por aí não
haverá guerras, apenas paz, em toda a parte.”
O tenor alemão sublinha a natureza religiosa da ópera: “Houve
pessoas que me disseram que esta ópera faz-nos voltar a perceber porque
somos cristãos. Alguém na audiência disse à pessoa do lado que sentia
muita inveja dos que eram critãos.”
“Alma” num Wagner não religioso
O maestro israelita recusa a teoria da conversão religiosa de
Wagner: “Surpreende que Wagner, que não é uma pessoa religiosa,
apresente-nos esta peça no final da sua vida, que parece completamente
religiosa. Não aceito o facto de Wagner se ter tornado religioso; ele
era uma pessoa muito crítica e penso que existe uma certa crítica contra
a forma como a instituição religiosa utiliza, de forma tradicional, a
religião.”
Mas Kaufmann prefere falar da música: “Ao fim de uma ou duas horas,
todo o mundo cede e começa a verdadeiramente ouvir e concentrar-se, mais
e mais, e é-se sugado pela música desta peça de Wagner. Demora o seu
tempo, mas se isso acontecer, é algo único, algo que nunca se vai
esquecer.”
É um tenor lirico spinto, alemão. Kaufmann, depois de estudar matemática, completou seus estudos no conservatório de sua cidade natal em 1994. Tendo participado em "master classes" com James King, Hans Hotter e Josef Metternich. Começou a sua carreira profissional no Staatstheater de Saarbrücken em 1994e logo foi convidado a participar em importantes teatros, como a Ópera de Estugarda a Ópera Estatal de Hamburgo, bem como a estreia internacional na Ópera Lírica de Chicago, Ópera Nacional de Paris, no Teatro alla Scala de Milão e Bayerische Staatsoper de Munique. Fez a sua estréia no Festival de Salzburgo em 1999, numa nova produção de Doktor Faust de Busoni e regressou em 2003 como Belmonte na ópera O Rapto do Serralho de Mozart, e para o concerto da Nona Sinfonia de Beethoven com a Filarmônica de Berlim.
Fonte
Por Claudio Castoriadis