quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Liberdade: Um bem fundamental.




       Falar sobre política é importante entre os jovens? Essa pergunta é de suma importância para aqueles que ainda têm a sensibilidade crítica de que as coisas ainda podem melhorar. É preciso desconstruir essa ideia trivial que a moçada teima em cultivar na cabeça de que política é um papo careta- uma coisa hermética desprovida de prazer. Ainda mais quando levamos em conta que a juventude é o alvo principal das grandes indústrias e das ideias absurdas dos grandes líderes covardes que se encontram no poder. Lancemos mão de todos os métodos possíveis que possam esclarecer nossa juventude. Por ser educador e filósofo continuo a sentir de forma premente a necessidade de ver a moçada discutindo não só em casa, mas, por cada canto da cidade, como se fosse música, poesia, a importância da política. Uma grande ambição, não? Creio que sim. Mas o que deve ser feito? Encontrar fórmulas é complicado.  Porém, um caminho que enxergo nesse contexto delicado é tentar mostrar que falar sobre política pode ser tão divertido e instigante como um bom Rock. Tão libertador e vivificante como uma bela música. Que fique bem claro, não estou clamando aqui que todos devem ler o Capital do filósofo Marx. O que peço é que questões sociais, do tipo reivindicação dos nossos direitos e a importância do voto sejam sempre uma constante no cotidiano da moçada, nas suas músicas, livros e conversas familiares. Somente assim, paulatinamente poderemos desconstruir essa imagem boba que discutir política é para caretas. Afinal, emerge na atualidade a ideia de co-responsabilidade como um novo paradigma para nortear nossa conduta em prol de uma finalidade social : Liberdade. Existir não é fácil, não basta ser, temos que tomar conta da nossa existência, fazer a deferença no todo. A liberdade é o bem mais caro da espécie humana, é o fundamento da ética, o fio condutor em qualquer debate político. As coisas estão difíceis? O mar não está para peixe? Isso é indubitável. Mas o que não pode acontecer é ficarmos de braços cruzados, inflamados com frases de efeitos do tipo: lutar pra quer? Se tudo está perdido, se não vale a pena. Não é assim- Esse não é o caminho. Sempre que alguém me vem com essas amarguras de imediato penso nas palavras do filósofo Sartre quando o mesmo alertava que o argumento decisivo empregado pelo senso comum contra a liberdade consiste em lembrar-nos de nossa impotência- Isso é fato. Aqueles que estão no poder, deturpando o que seria realmente uma política democrática usam toda sua retórica para nos derrubar e deixar nossa gente no lugar mais pérfido possível: a ignorância. O templo dos fracos por assim dizer. É essa a estratégia mais sutil e desumana do senso comum. Ora, se nos encontramos longe de podermos modificar nossa situação ao nosso bel prazer, parece que não podemos modificar-nos a nós mesmos. “Conversa fiada”, “papo burguês”, “argumento de gente fracassada” É nossa liberdade, nosso bem mais precioso, que constitui os limites que irá encontrar depois. Fico feliz em saber que essa estratégia nunca abalou os adeptos da liberdade humana. Sócrates, Jesus, Platão, Che, Sartre, Marx, Marcuse, Proudhon, Ernest Bloch, Gramsci, entre tantos outros que foram fieis na luta pela emancipação humana. Pois é moçada, não se deixe entregar, pense grande, pense livre, afinal como diria o poeta Renato Russo: Quem pensa por si mesmo é livre e “ser” livre é coisa muito séria. Não acredite em tudo que te mostra a TV, nunca aceite uma verdade pronta, ouça as pessoas certas, escolha a dedo os melhores livros. Se for gritar seus direitos, que não seja em “becos escuros” nem para “surdos”, que seja na luz em alto tom para que o mundo saiba que você não é apenas mais um. Seja diferente, aquele que estima um debate político  é um adepto da liberdade. Força, coragem e sejam sempre honestos. Estamos todos no mesmo barco.





Por Claudio Castoriadis

Sobre o Autor:
Claudio Castoriaids Claudio Castoriadis
é Professor e blogueiro. Formado em Filosofia pela UERN. Criador do [ Blog Claudio Castoriadis ] Tem se destacado como crítico literário.Seu interesse é passar o máximo de conhecimento acerca da cultura >

Nietzsche : Limite da racionalidade humana



3.2.   Limite da racionalidade humana


 A visão trágica da cultura grega está para Nietzsche no mais alto conceito: resgatar o pensamento dos primeiros pensadores foi uma tarefa que o Nietzsche tomou para si buscando uma visão emancipadora da humanidade, como expressão de prazer pela existência, potencialização e celebração da vida. É sobre essas virtudes que Nietzsche encontra na cultura trágica o impulso necessário para a desconstrução da metafisica e da negação do racionalismo teórico.
Pois bem! O que percebemos nesse momento é que a estratégia adotada por Nietzsche é brilhante, visto que o que deveras estava sendo colocado em questão desde o início era domínio do discurso metafisico. Se for verdade que a filosofia compreendida como busca da verdade, amor ao conhecimento e coroamento da razão, como liberdade de pensar, emancipação espiritual ou passagem do conhecimento comum para o científico é sintoma de decadência, então ela mais prejudicou do que beneficiou a vida, mais deturpou do que iluminou a vida. Por isso a crítica do nosso filósofo se vislumbra por inteira no pensador Sócrates. Como bem afirma Deleuze:
A degenerescência da filosofia aparece claramente com Sócrates. Se definirmos a metafisica pela distinção de dois mundos, pela oposição da essência e da aparência, do verdadeiro e do falso, do inteligível e do sensível, é preciso dizer que Sócrates inventou a metafisica: ele faz da vida qualquer coisa que deve ser julgada, medida, limitada, e do pensamento, uma medida, um limite que exerce em nome dos valores superiores  (1981, p.19).

3.3.   Crítica à metafísica como teoria de dois mundos


Quando Nietzsche se volta contra a metafisica, dela contesta o sentido de dois mundos. Ou seja, temos claramente uma crítica centralizada nas dicotomias metafisicas: sensível e inteligível, corpo e alma, matéria e espírito, aparência e essência, verdade e mentira, realidade e idealidade. Nietzsche não poupa críticas ao dualismo atrelado no otimismo teórico socrático que, nesse contexto, seria o traço essencial de nossa cultura. Sobre nenhuma hipótese deve existir lugar para dicotomias metafisicas no pensamento nietzschiano. E foi à sombra do predomínio do otimismo de Sócrates que, segundo Nietzsche, logo em seguida Platão estruturou sua metafisica na qual o ente sensível e o ser inteligível foram separados. Com isso, dois mundos se contrapõem se insinuando cientificamente como antípodas, esferas heterogêneas, diferenças que negligenciam a primazia da realidade como processo. Compreende-se, portanto, que a metafisica tal qual Nietzsche considerou trata-se estritamente de uma teoria dos dois mundos, que desvaloriza este mundo em nome de um outro, imutável e eterno. Todavia, como bem lembra Muller-Lauter em A Doutrina da Vontade de Poder em Nietzsche:
Nietzsche pode também se voltar explicitamente contra a metafísica, mas podemos rapidamente nos convencer de que dela fala apenas no sentido de uma teoria dos dois mundos (Zweiwelltheorie). Se desconsiderarmos esse estreitamento, não pode ser mantida a pretensão de Nietzsche de que sua filosofia não seja metafisica. (1997, p, 5)
Nessa separação entre mundo real e aparente Nietzsche enxergou um preconceito contra a vida. Nessa distinção meticulosa e decadente se encontra a metafísica tradicional de onde beberam tantos filósofos dogmáticos. Com isso, podemos compreender que sua crítica à metafisica traz à tona o que há de absurdo e mentiroso na crença de um mundo verdadeiro. Lembrando que este é aprofundado ao mesmo tempo em Sócrates e logo em seguida, em sua forma mais acabada, na metafísica platônica, a qual, como Nietzsche compreendeu, preparou o advento do cristianismo com todo seu arcabouço teórico, dando início ao que Nietsche considera uma lastimável ruptura da unidade entre homem e mundo:
Há dois mil anos, Platão expulsara os poetas da cidade, por se deixarem atrair pelo transitório e efêmero, por não buscarem a verdade. Anti-platônico por excelência, Nietzsche repele justamente os filósofos que visam ao essencial, ao imutável, ao eterno. Mas, também, rejeita os poetas que se deixam seduzir pelo imperecível. Por isso mesmo, investiga o que os princípios últimos e definitivos escondem e busca o que se esconde por trás das verdades eternas e absolutas. Em sua campanha contra a metafísica e contra a religião cristã, não hesita em confrontar-se com os ídolos de seu tempo. (Marton, 1999, p. 3)
Analisando essa passagem de Cadernos Nietzsche, é possível compreender que o problema da cultura consiste em ser governada por sentimentos fracos, cultivados por decadentes modelos éticos, deixando de joelhos os filósofos e a ciência, perpetuando um novo tipo de indivíduo prisioneiro do imperativo categórico da moralidade e da religião cristãs, ambas embasadas pelo discurso metafísico culminante do otimismo socrático.


CONCLUSÃO

Finalmente, mediante essas considerações apercebemo-nos que a urgência manifestada por Nietzsche no levantamento das questões morais é diretamente correspondente à importância que ele dá à cultura. Aliás, em toda sua trajetória intelectual Nietzsche ambicionou libertar o homem moderno daquilo que ele considerou ser a maldição da modernidade. Por isso condenou acima de tudo o otimismo teórico tão em voga em seu tempo.
Assim, ao longo desse trabalho ficou constatada uma crítica à moral, dando ênfase em sua estrutura manipuladora. Com justeza, compreendemos que Nietzsche defende a estreita relação entre valor e homem, partindo do princípio do homem como legislador, crítico e criador. Nesse ponto, a eficácia dos estudos de Nietzsche entra em cena: sua crítica é direcionada com inteireza contra a ideia de uma ordem moral ou perspectiva atrelada aos costumes, hábitos e tradições que persiste na falta de sentido histórico e ligada ao sentimento de medo. Nesses termos, a moralidade não passa de obediência incondicional ao costume. Não obstante, nosso pensador implode a formação da moral desde sua estrutura, na adoração pelo costume, cultivada pelo sentimento de medo.
Ficou constado também que a reflexão de Nietzsche sobre a moral remete diretamente a um exame da história humana. Dessa forma, vale ressaltar que mediante seu exame Nietzsche distingue dois tipos psicológicos, dois tipos distintos de valoração: a maneira nobre de avaliar e viver a vida e a maneira dos ressentidos, qualificando o tipo nobre quando o mesmo exalta os valores primordiais da vida. Lembrando que nesse sentido Nietzsche se refere precisamente à aristocracia guerreira dos tempos homéricos e sua casta sacerdotal.
Com isso, foi compreendido que todos os valores que sustentavam a moral posta em questão tinham sua origem no cristianismo, principal alvo da crítica nietzschiana, por ter sua origem no ressentimento com a vida. Não se detendo apenas na origem da moral e seu vínculo com o cristianismo, foi analisada também a problemática de Sócrates como figura emblemática de nossa pesquisa, por ser ele, segundo Nietsche, o responsável pela decadência que se alastrou na cultura de seu tempo.
Com prudência, compreendemos no decorrer de nossa pesquisa que o filósofo Nietzsche desmascarou a junção do otimismo teórico de Sócrates, que buscava a verdade a qualquer custo embasando a moral e o cristianismo que culminaram na negação da vida. E foi na figura de Sócrates que Nietzsche encontrou o ponto negativo da metafisica. Sua crítica é contra a ideia de uma ordem moral inclinada exclusivamente em outro mundo, o mundo das ideias, como entende Nietzsche, que significou claramente o arranque do pensamento religioso cristão, visto que a moral decadente depositou nas mãos de um Deus antropomórfico toda a responsabilidade da ordem do mundo.
Ora, temos então uma crítica que finda em uma problemática metafísica. Afinal, uma moral que toma como base valores transcendentes, imutáveis e intocáveis mantidos em um mundo suprassensível nega categoricamente qualquer hipótese dos valores serem fruto deste mundo terreno, pois tem sua origem em outro mundo.
O combate de Nietzsche contra a cultura ocidental, impregnada pelo otimismo teórico e, conforme apontamos, pelo seu herdeiro que é o cristianismo, é feito com o objetivo de reafirmar a vida em sua plenitude, de libertar a vida de uma moral que sufoca e contamina a cultura. Portanto, constatamos aqui que o estopim da decadência da moral e da cultura europeia se encontra no otimismo teórico do pensador Sócrates que acabou por embasar o erro da metafísica, estabelecendo a crença em um mundo fictício.




Nietzsche

 Uma Compreensão da Cultura do Ocidente

Como Sintoma de Decadência Moral


Monografia defendida como Trabalho de Conclusão do Curso de Filosofia, para obtenção do respectivo título de Licenciado.
Orientador
Prof. Ms. William Coelho de Oliveira
DFI-FAFIC


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