Orientador
Prof.
Ms. William Coelho de Oliveira
DFI-FAFIC
RESUMO
Este trabalho trata da
crítica do filósofo Nietzsche à moral e, por conseguinte, aos valores que
permeiam a cultura ocidental. Avaliar esses valores consiste em pensar suas
origens e como eles estruturam a moral. Em sua obra Genealogia da Moral, o autor constata dois tipos de moral: a moral
nobre e a moral dos escravos. Daí segue-se uma avaliação acerca da moral,
problematizando o valor dos valores: como os valores “bom e ruim”, criados por
uma moral dos senhores, foram transformados em “bom e mau”, pela moral
dos escravos? Mediante breve análise fica compreendido que permeia em nossa
cultura a moral ressentida que se sobressaiu da moral do tipo nobre: uma moral
contra os instintos vitais, responsável pela decadência da cultura europeia e
pela asserção do cristianismo. Delimitado o problema da moral, tentar-se-á
mostrar a degenerescência da cultura a partir de uma crítica ao pensador
Sócrates. Ou seja, tudo que foi dito acerca dos custos negativos da moral acaba
dando cor e contorno para uma problemática marcante dessa pesquisa: o otimismo
teórico de Sócrates, que para Nietzsche ocupa um lugar central na história da
decadência da cultura. Não obstante, o problema da cultura racionalista que
finda na ética e o otimismo socrático será o argumento de Nietzsche contra a
moral ressentida, do cristianismo e da metafísica.
PALAVRAS-CHAVES: Moral. Decadência. Sócrates.
Explicar a análise nietzschiana acerca da cultura
ocidental é uma tarefa cuja complexidade se exterioriza de imediato na
interpretação do seu campo discursivo. Serenados conflitos tão clarividentes em
seu trágico "evangelho", não apenas dificultam, como também instigam
em destrincharmos seu complicadíssimo pensamento, este correlato da identidade
própria de sua filosofia. No trabalho que nos propomos apresentar parcialmente,
teremos como objeto principal trabalhar com imagens, conceitos, expressões,
introduzindo ideias que certamente justifiquem a relevância da obra do filósofo
Nietzsche ainda em nossos dias.
Nesse contexto, a noção de moral e sua estreita
relação com a cultura será problematizada, partindo do princípio de que tais
questões são de extrema importância na filosofia nietzschiana. Daí, conforme a
leitura de sua obra, principalmente em sua primeira etapa, constantemente são
empregados termos como degradação, decadência, degenerescência, quando o panorama da tradição ocidental é
diagnosticado. Por sua filosofia se tratar de uma interpretação do corpo, na
qual o papel do filósofo se delineia como médico da civilização, compreendemos
que sua análise da cultura remete diretamente ao adoecimento drástico do tipo
humano. Nesse ponto, foi com extrema audácia que Nietzsche aventurou-se por
caminhos profundos, explorando e redescobrindo a natureza humana,
problematizando os princípios dos valores éticos constituídos desde a
antiguidade clássica até nossos dias.
Dessa forma,
a descrição de Nietzsche acerca da modernidade e, por conseguinte, da cultura
europeia é no mínimo assustadora: esboça uma civilização que se encontra
impregnada por uma espécie de “consciência formal” cujo triunfante “você deve”
exalta virtudes que supostamente delineiam um padrão humano: o espírito
comunitário marcado pela benevolência, diligência, moderação, modéstia, indulgência
e a compaixão. Sua crítica dá testemunho inequívoco da dialética entre
indivíduo e sociedade. Sua intervenção a respeito da cultura ganha sentido em
seu rico diálogo, sempre problematizando as ideias modernas, tendo como
referência central o espírito da antiguidade clássica pela qual Nietzsche
desqualifica a cultura de seu tempo, por essa não alcançar uma visão abrangente
e real sobre a vida. Ao invés disso a sociedade é tiranicamente governada por
sentimentos fracos, cultivados por fortes modelos éticos, deixando de joelhos os
filósofos e a ciência, perpetuando um novo tipo de indivíduo prisioneiro do
imperativo categórico da moralidade.
Nesse contexto, nos situamos num campo de indagações
no que tange à temática do nosso problema: o declínio da cultura segundo
Nietzsche. Seguindo nessa linha de raciocínio as perguntas imediatas que surgem
são: o que e quais são os sintomas da decadência cultural? Qual a relação entre
cultura e moral? O que há de espantoso na religião judaica e cristã? Qual foi a
principal causa da degenerescência da filosofia na Grécia? Como compreender a
mediocrização do tipo homem? Por que a degenerescência da cultura se dá a
partir de Sócrates? Qual seria a relação do mestre de Platão com o
enfraquecimento e mitigação de certos impulsos vitais? Por que não existe um
diálogo entre a cultura grega clássica com as ideias modernas? Até que ponto a
moral se dirige contra os instintos da vida? Tal como entende Nietzsche, a
moral tradicional passa por caminhos obscuros e antivitais, sufocando a
produção das perspectivas e o estabelecimento dos valores, mas como se dá esse
processo?
Pois bem! O
fio condutor para um desfecho satisfatório da nossa pesquisa será abordarmos a
moral como problema central na análise nietzschiana da cultura. Com justeza,
trataremos o tema da moral em dois momentos: no primeiro, a moral se
exterioriza como sentimento dos costumes, delimitando nossa pesquisa em seu
livro Aurora (1881); e no segundo, a
moral será apresentada como antinatureza, delimitando tal problemática
especificamente em sua Genealogia da Moral
(1887). Se conseguirmos com a apresentação dessas ideias uma aproximação da
moral como condição de existência, a partir de uma análise psicológica
tentaremos logo em seguida ascender ao problema central de nossa análise: a
degenerescência da cultura a partir de uma crítica à metafisica.
Seguiremos, pois, consistindo em uma
observação criteriosa pela qual possamos compreender o problema da cultura sem
perder de vista o escopo dessa questão tão ampla, cuja problemática implica em trazermos
à tona uma série de outras discussões: a crítica da linguagem, da noção de
sujeito, da subjetividade, o niilismo, crítica da racionalidade, crítica à
razão, crítica à civilização socrática, crítica ao otimismo teórico, à moral
dos ressentidos, à noção de valor, crítica às religiões. Por fim, temas que
Nietzsche pensou com tanta genialidade e audácia em seu denso “evangelho”
tratando com palavras desesperadas um assunto desesperado: a natureza e o rumo
da cultura de seu tempocont...
Por Claudio Castoriadis ( Franciclaudio Feliciano de Lima)
Claudio Castoriadis é Professor e blogueiro. Formado em Filosofia pela UERN. Criador do [ Blog Claudio Castoriadis ] Tem se destacado como crítico literário.Seu interesse é passar o máximo de conhecimento acerca da cultura > |