Joseph Frank é
autor de muitos livros, considerado uma das maiores autoridades mundiais em Dostoievski
lembrando a todos os seus leitores que as ideias e as consciências dos
personagens de Dostoievski são autônomas, não podendo ser levadas a um
denominador ideológico comum por esse motivo e vários outros intrigantes o
mestre Russo seria influência na literatura mundial. O rigor textual de Frank é
um traço de seu percurso, não o impede de enxergar na obra de um autor como
Dostoiévski conteúdos que só podem ser amplamente compreendidos em seu contexto
de origem. Vem daí a ambivalência do título e da própria metodologia de Frank.
O mesmo crítico que afirma que, se quisermos fazer justiça ao romancista,
devemos esquecer as questões ideológicas e os problemas sociopolíticos em que
estão envolvidas suas principais personagens.
Só para constar
a importância do Dostoievski, suas ideias influenciaram autores de peso como
Lev Shestov, Nietzsche, Heidegger e o Francês Sartre. Frank é dono de uma
biografia impecável sobre o romancista russo, Entre os quais se destacam:
"Dostoiévski - As Sementes da Revolta (1821-1849)"; "Dostoiévski
- Os Anos de Provação (1850-1859)"; "Dostoiévski - Os Efeitos da
Libertação (1860-1865)"; "Dostoiévski - Os Anos Milagrosos (1865-1871)";
"Pelo Prisma Russo - Ensaios sobre Literatura e Cultura”, "Dostoiévski
- O Manto do Profeta (1871-1881)" todos publicados pela Edusp. O emérito
do professor escreveu também “Pelo prisma
russo: ensaios sobre literatura e cultura”. Lembrando também que em sua
trajetória intelectual escreveu dezenas de outras obras. Com o devido
reconhecimento recebeu o título de doutor Honoris causa pelas universidades de Chicago,
Adelfhi, Northwestem e Sorborne.
O diário de um
escritor
Leia abaixo a descrição
que Joseph Frank faz do Diário de um Escritor, publicação com artigos
integralmente redigidos por Dostoiévski e publicados de modo irregular de 1873
até 1881, ano de sua morte.
O Diário de um
Escritor é uma mistura tão grande de material disparatado que fica difícil dar
uma noção sofrível de seu conteúdo. As ideias propriamente ditas do Diário já
eram conhecidas desde a atividade jornalística anterior do autor, bem como
desde os vôos ideológicos de seus romances. No entanto, receberam uma nova vida
e uma nova cor graças ao constante desfile de exemplos e ilustrações mais
recentes, extraídos de sua onívora leitura da imprensa corrente, de seu amplo
conhecimento da história e da literatura tanto russa quanto europeia e, muito frequentemente,
dos fatos de sua própria vida. Essas revelações autobiográficas foram,
certamente, um dos principais atrativos do Diário e contribuíram enormemente
para seu encanto; os leitores sentiam que estavam realmente sendo admitidos na
intimidade de um de seus grandes homens. Esse constante intercurso entre o
pessoal e o público – a incessante mudança de nível entre os problemas sociais
do momento, as ‘questões malditas’ que sempre infectaram a vida humana, e as
espiadas nos recessos da vida particular e na sensibilidade de Dostoiévski –
revelou-se uma combinação irresistível que deu ao Diário seu cunho literário
único.
Além do mais, o
Diário serviu de estímulo não só para os contos e esquetes já mencionados, mas
também, como o autor já antecipara desde o início, para o grande romance que
planejava escrever. Vez por outra aparecem motivos que logo serão utilizados
n’Os Irmãos Karamázov; e um dos fascínios desse vasto corpus jornalístico,
especialmente para os leitores de hoje, é observar a cristalização desses
motivos à medida que emergem espontaneamente durante o tratamento de um ou
outro assunto. Mesmo que não seja literalmente um caderno de notas, o Diário
preenche essa categorização no sentido exato da palavra. É, verdadeiramente, a
ferramenta de trabalho de um escritor nos primeiros estágios da criação – um
escritor que procura (e encontra) a inspiração para seu trabalho, à medida que,
de pena na mão, inspeciona os fatos correntes e tenta lidar com seu sentido
mais profundo.
Extraído de
Dostoiévski: O Manto do Profeta (1871-1881), de Joseph Frank.
Por Claudio Catoriadis