De todas as correntes
filosóficas que tive acesso durante minhas pesquisas solitárias acerca do
conhecimento humano devo confessar que aquelas que tinham como carro chefe a
questão da liberdade como um direito do ser humano prenderam minha atenção de
forma mais especial. Não é de hoje minha inclinação para determinada questão
que é fonte de paixões e angústia na história do pensamento humano. Difícil
pensar tal problemática sem lembrar a natureza humana que tende sempre em se autodestruir
em um egoísmo ignóbil e hediondo. Segundo o Filósofo Sloterdijk, o humanismo
fracassou em tornar o homem um ser culto, sofisticado e, por conseguinte
civilizado. Faz sentido tal ponto de vista? Bem, se levamos em conta o intuito
do movimento renascentista como qualificação do tipo homem poderíamos afirmar
de forma categórica que sim. Basta lembrarmos as atrocidades ocorridas antes e
após a primeira guerra mundial. E mais, basta uma breve reflexão da situação
histórica de uma Europa deformada, física e moralmente, por estúpidas guerras,
uma humanidade desorientada que agonizou perante o massacre de populações
mediante o limite imposto a liberdade com regimes totalitários. Não seria tudo
isso um sintoma de decadência? Depauperação da cultura humana pela petulância
de uma razão mumificada como pensou o Pensador Nietzsche? Essa fase negra da
nossa história não seria marcada pela crise do otimismo romântico que,
durante muito tempo cultivou a garantia e o sentido da história em nome da
razão? Sim, aquela razão tão explorada pela filosofia clássica, uma ideia do absoluto,
da ideia da humanidade atrelada em pontos de vistas estáveis em um progresso
tosco e incontivel.
Pois bem, foi mediante esse quadro que o idealismo, o
positivismo e o marxismo vingaram como Filosofias otimistas que presumiam ter
alcançado o fundamento da realidade e o sentido absoluto da história. Porém,
mediante os fatos uma pergunta deve ser feita: Conseguiram tais correntes
humanizar as diferentes etnias? Uma
autora que estimo por sua inquestionável envergadura é a Hannah Arendt,
intelectual de obras importantes, entre elas Origens do totalitarismo e A condição
humana. Problematizando a questão da verdade indubitável, Hannah Arendt não
gostava de ser chamada de filósofa, definia-se como pensadora política ou
estudiosa de teoria política. Talvez um dos pontos principais de sua obra seja
a reflexão sobre o problema que dá título a um dos livros mencionados acima: o
totalitarismo e suas origens. Perante, a ascensão do nazismo, tentou
compreender como esse tipo de regime, que provocou a morte de dezenas de
milhões de pessoas e chegou ao requinte de produzir a morte em série, encontrou
solo fértil entre os alemães e entre outros povos europeus. Suas indagações
eram pertinentes - como um país, como a Alemanha, berço de grande parte do
pensamento ocidental, permitiu que surgissem as sementes da tragédia e como
elas progrediram até gerar tudo o que já conhecemos?
Hannah Arendt talvez tenha
sido a pensadora que melhor entendeu as discrepâncias da Filosofia clássica- A
busca da verdade a todo custo. Ela parece se situar em uma passagem, em um
momento de mudança e, nesse sentido, com um olhar aprimorado. Vê o que
aconteceu no tempo histórico da humanidade a partir da força do pensamento de
gente como Agostinho e Aristóteles e pensa o futuro a partir de uma subversão,
de uma limpeza, dos resíduos de metafísica, da imposição de uma verdade, sem
esquecer as lições subliminares do mestre Kant, quando este, evidenciou o
limite do conhecimento. Seu pensamento tocou as questões fundamentais do século
passado, apontando aquilo que constitui o centro da condição humana
contemporânea: A liberdade. você ainda cultiva a ideia de verdade absoluta? incontestável? sinto informar, o Hitler não pensava muito diferente.
Por Claudio Castoriadis