Em minha mente a brancura da dúvida que não admitia réplicas – nomes, pessoas, locais, – uma fidalga impressão, com todos os acessos para vaticinios, corria em pensamentos a perfeita harmonia, cogitava que Deus fosse um antigo lago, achava que mergulhando em seu brilho glacial as pessoas seriam bonecas russas.
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na passagem de uma ideia para outra, ela ecoava, como se uma cansativa madrugada tivesse arrebatado a chama da clareira - Quem precisa de sono quando se respira sonhos?
O alarido, estranho, indiferente, não me paralisa. — Não me assusta a ideia de um estado natural da imaginação com ausência de leis. Eu nunca desejei, nunca algo assim entrou em minha cabeça.
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Afastando seu rosto das sombras, ela olhou de esguelha para o nada. Suavidade, repentinamente um acesso de felicidade.
— não é de estranhar a ineficácia do tempo?
— Sim, outro dia pensei algo parecido.
Sua fala vagava minha mente. Na mesa, tigelas com geleia e mel, pratos com arroz doce e mingau com aveia. Era a mesmo lugar onde ela descansava. E assim se rastreou o silêncio, exatamente com essas teogonias:
Um olhar inteligente sobre o atraso da nossa situação no mundo imita irrefletidamente as ondulações do tempo. Pense nisso, a monstruosa ineficácia dos ponteiros interposto entre nossas ações duradouras no mundo. O tempo tem a ver com a condição humana finita, a penumbra não definida, a umidade da nossa existência, de modo que quando pensamos sobre o tempo, nosso limite é parte desta reflexão.
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— Depois falaremos sobre isso - agora tenho que deixar seus aposentos. E assim ela se vai, retorna para minha mente lerda e ranhenta, se lança nesse lugar.
30 de novembro de 1983