O encontro acontecera de repente, mas era como se já tivessem sido amigos a vida inteira. A experiência da amizade parece ter suas raízes fora do tempo, na eternidade. Uma acontecimento distante, metafísico. Um amigo é alguém com quem estivemos desde sempre.
Uma estória oriental conta de uma árvore solitária que se via lá no alto da montanha. Não tinha sido sempre assim. Em tempos passados, a montanha estivera coberta de árvores que os lenhadores cortaram e venderam. Mas aquela árvore era torta, não podia ser transformada em tábuas. Inútil para os seus propósitos, os lenhadores a deixaram lá. Depois vieram os caçadores de essências em busca de madeiras perfumadas. Mas a árvore torta, por não ter cheiro algum, foi desprezada e lá ficou. Por ser inútil, sobreviveu. Hoje ela está sozinha na montanha. Os viajantes se assentam sob a sua sombra e descansam.
Um amigo é como aquela árvore. Vive de sua inutilidade. Pode até ser útil eventualmente, mas não é isso que o torna um amigo. Sua inútil e fiel presença silenciosa torna a nossa vida uma experiência de comunhão. Diante do amigo sabemos que não estamos sós. E alegria maior não pode existir. Penso nisso, penso nas pessoas, amigos, amigas , emprego, perrengues, gatos , doginhos, romances, família. Penso em todos e tudo. Então, fico feliz por saber que não existe fim para vínculos. O melhor da vida será sempre invisível. Posso não fazer parte do universo de quem fez parte da minha vida, mas, em silêncio, eu sei que sou um pedaço de vida por ter conhecido e vivido com pessoas , plantas, mundos - mesmo agora sendo invisíveis.
Claudio castoriadis