segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Koselleck: uma história dos conceitos contidos em forças diacrônicas




O professor Koselleck dedicou cerca de 30 anos de sua vida à elaboração de uma história dos conceitos (Begriffsgeschichte). Partindo da premissa de que este tipo de história não pode ser separado da história social, ele investiga os problemas teóricos implícitos a este campo de pesquisa, particularmente no que se refere às relações entre linguagem e história.

De forma simplificada, podemos admitir que cada palavra remete-nos a um sentido, que por sua vez indica um conteúdo. Porém, nem todos os sentidos atribuídos às palavras são relevantes do ponto de vista da escrita de uma história dos conceitos. A saber, conceitos para cuja formulação seria necessário um certo nível de teorização e cujo entendimento é também reflexivo.

Tomemos, por exemplo, as palavras Estado (Staat), ou Revolução (Revolution), ou História (Geschichte), ou Classe (Klasse), ou Ordem (Stand), ou Sociedade (Gesellschaft). Todas elas sugerem imediatamente associações. Essas associações pressupõem um mínimo de sentido comum (minimal Bedeutungsgehalt), uma pré-aceitação de que se trata de palavras importantes e significativas.

Apoiando-nos na análise auto reflexiva, devemos nos interrogar acerca dos limites e fronteiras que separariam palavras em si teorizáveis, e acerca de que palavras seriam em si reflexivas. Trata-se na verdade de uma determinação aleatória.  De forma a melhor ilustrar o esse processo de teorização de um conceito é necessário  um certo grau de teorização/abstração.

À utilização/emprego de conceitos (Begriffsverwendung), se mostra uma questão bastante controversa no interior do debate teórico. Todo conceito não é apenas efetivo enquanto fenômeno linguístico; ele é também imediatamente indicativo de algo que se situa para além da língua. Com isso, Koselleck defende a hipótese de que todo conceito é sempre concomitantemente fato (Faktor) e indicador (Indikator).

Um conceito relaciona-se sempre àquilo que se quer compreender, sendo portanto a relação entre o conceito e o conteúdo a ser compreendido, ou tomado inteligível, uma relação necessariamente tensa. De forma lapidar, o historiador considera teoricamente errônea toda postura que reduz a história a um fenômeno de linguagem, como se a língua viesse a se constituir na última instância da experiência histórica. Se assumíssemos semelhante postura, teríamos que admitir que o trabalho do historiador se localiza no restrito no pano campo da hermenêutica.

Devemos partir teoricamente da possibilidade de que em cada uso pragmático da linguagem (Sprachpragmatik), que é sempre sincrônico, e relativo a uma situação específica, esteja contida também uma diacronia. Toda sincronia contém sempre uma diacronia presente na semântica, indicando temporalidades diversas que não posso alterar. E aqui situa-se o ponto que pode sustentar a defesa de uma história dos conceitos segundo Reinhart Koselleck: ela pode ser escrita, posto que em cada utilização específica de um conceito, estão contidas forças diacrônicas sobre as quais  não temos nenhum poder e que se expressam pela semântica. O eixo dessa analise implica em apontar a forma ingênua a apropriação dos conceitos , a partir de uma semântica que temos em nossas cabeças como um a priori. 


Por Claudio Castoriadis 

“Conversa pra dois no mesmo espaço ocupado”




Quando eu tento identificar as intenções das pessoas que me motivaram no processo de pensar e formular ideias sobre o mundo, por segurança, não por desamparo, mantenho uma certa distância do “tempo liquido” que julgo descabível para um bom senso. Quando deixo um lugar não apenas visto algo, algo me veste: o material comum na presença das pessoas.

As imagens, embora selvagens, a densidade proseada na atmosfera, tudo isso já faz parte das especulações cotidianas ( Derivados Cambiais). Uma lembrança é formatada quando uma página é virada. Ainda em tempo, “na natureza nada se perde”, tudo é arquivado.

Mais uma vez, alguém encontrou um sorriso, que não estava lá, antes de ontem. Disfarço, por saber que ele vai gritar ecoando no vazio da geladeira transbordando a casa inteira gostosuras e travessuras.

Durante o curso da madrugada, eu tento dar a estes termos abstractos, ideias concretas aproveitando cada fagulha de pensamento, mantendo na minha cabeça que estou a construir algo que irá fazer sentido. Desvelamento, parte de um circundante, que será abusado, negado e legado, abandonado, e até detestado – enfim, que irá ser respirado.


Por Claudio Castoriadis
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