terça-feira, 13 de agosto de 2013

Ainda que por outros motivos.


Por que superestimamos nosso próximo em detrimento de juízos estúpidos? Como se nosso pensamento fosse algo muito superior ao de alguém? Não seria por ventura nossa idiotice visivelmente estúpida? — Penso que sim. Errar não caracteriza uma estupidez. Escolhas e motivos diversos conduzem a um ato. Não temos um finalmente. A questão do chegar, se difere de concluir, parar, ser estático. Portanto: enquanto eu erro, demonstrarei com atos a construção da minha personalidade; se eu não mais errar, deixarei de ser movimento, não serei enquanto for. Eu sou, errando, seguirei praticando diversos atos, ainda que por outros motivos.




Por Claudio Castoriadis

Figuras de pensamento: uma explosão de significados.




Figuras de pensamento


As figuras de pensamento são recursos de linguagem que se referem ao significado das palavras, ao seu aspecto semântico.

As figuras de pensamento trabalham a subjetividade, exploram a riqueza dos sentidos. Por trás de uma uma ideia, uma expressão, temos uma explosão de significados. As figuras de pensamento trabalham mais a questão daquilo que se encontra implícito, ou seja, daquilo que revela a intenção que o emissor quis provocar em seu interlocutor do que a questão voltada para aspectos sintáticos, relacionados à construção das orações. Sendo assim, vejamos suas classificações:

Antítese

Consiste na utilização de dois termos que contrastam entre si. Ocorre quando há uma aproximação de palavras ou expressões de sentidos opostos. O contraste que se estabelece serve, essencialmente, para dar uma ênfase aos conceitos envolvidos que não se conseguiria com a exposição isolada dos mesmos. Observe os exemplos:

"O mito é o nada que é tudo." (Fernando Pessoa)
O corpo é grande e a alma é pequena.
"Quando um muro separa, uma ponte une."
"Desceu aos pântanos com os tapires; subiu aos Andes com os condores." (Castro Alves)
Felicidade e tristeza tomaram conta de sua alma.


Paradoxo

Consiste numa proposição aparentemente absurda, resultante da união de ideias contraditórias. Veja o exemplo:

Na reunião, o funcionário afirmou que o operário quanto mais trabalha mais tem dificuldades econômicas.

Eufemismo

Consiste em empregar uma expressão mais suave, mais nobre ou menos agressiva, para comunicar alguma coisa áspera, desagradável ou chocante.

 Perífrase

Consiste no uso de uma expressão que designa um determinado ser por intermédio de alguma de suas características ou por meio de um determinado fato que o fez ser conhecido entre todos 



Por Claudio Castoriadis

Franz Kafka: a vida como um instante!!



Franz Kafka nasceu em Praga a 3 de julho de 1883, cidade que durante todos os 40 anos da vida do escritor pertenceu à monarquia austro-húngara. Filho de um abastado comerciante judeu, Kafka cresceu sob as influências de três culturas: a judia, a tcheca e a alemã. Formado em direito, ele fez parte, junto com outros escritores da época, da chamada Escola de Praga. Esse movimento era basicamente uma maneira de criação artística alicerçada em uma grande atração pelo realismo, uma inclinação à metafísica e uma síntese entre uma racional lucidez e um forte traço irônico. Suas obras também conseguem formalizar e abrigar leituras totalmente relacionadas com a condição do ser humano moderno. O olhar kafkiano é direcionado para coisas como a opressão burocrática das instituições, a "justiça" e a fragilidade do homem comum frente a problemas cotidianos

Kafka se referia à vida como um instante entre dois passos, levando em conta todas as gerações que nos precederam e todas as que virão depois de nós. No entanto, no decurso de sua existência, todo homem e toda mulher podem viver diferentes renascimentos, fracassos, recomeços e transformações. Enquanto estivermos nesse mundão, qualquer coisa pode ser planejada, experimentada, realizada. Somos um instante entre dois passos, mas esse instante contém todas as possibilidades do mundo.

As palavras de Kafka são sólidas ao mesmo tempo que são abstratas. Um pensamento pesado e rápido como uma guilhotina. Como todo texto traz consigo algo não dito, o pensamento do escritor judeu traz um arcabouço de sentidos e instantes que qualificam a vida.

Se levarmos em consideração o instante do cotidiano de que falava Kafka, certamente podemos tirar bom proveito do tempo experimentando com a vida, pois é possível de um simples ato acontecer um momento especial. Não somos eternos, afirma Kafka, mas dispomos de dias repletos de possibilidades.

Conta-se que Kafka mantinha uma rotina ao mesmo tempo rigorosa e estranha: ao voltar do trabalho, fazia a sesta das 15h às 19h30. Depois dava um passeio de uma hora, jantava com os pais e escrevia até as 23h, atividade que poderia se prolongar até as 2h ou 3h da madrugada, às vezes até mais tarde. Kafka dizia que certas leituras tinham uma capacidade muito diferente: a de nos permitir quebrar nossa carapaça para poder ver o que há debaixo dela:

Necessitamos dos livros que nos afetam como um desastre, que nos afligem profundamente como a morte de alguém que amamos mais que a nós mesmos, como estar perdido sozinho num bosque, como um suicídio.

Franz Kafka 



Por Claudio Castoriadis
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