Um bom poema apenas precisa
"ser" não mais que isso nem aquilo, apenas seja. Nessa estética somos convidados a embarcar em
uma aventura literária e poética das poucas palavras: os haicais. Para quem
ainda não é familiarizado com a o termo se trata de formas poéticas japonesas
surgidas no século XVI. Os Haicais
chamam atenção pela maneira sucinta e harmônica que eles têm.
Sucinta? Literalmente ou
falando de forma não conceitual, não encontro palavras para descreve um estilo
composto por três linhas que consegue captar um momento presente, abrindo
nossas mentes para sensações e lugares. Foi o mestre japonês Matsuo Bashô quem tornou
essa arte conhecida, divulgando-a em diários de viagem.
Claro que aqui no Brasil temos
aqueles que se banharam nesse estilo, vários escritores desse tipo de texto,
como Alice Ruiz, Paulo Leminski, Paulo Franchetti . Segundo o poeta Teruko no
Brasil, o haicai alcançou o grande público por meio de três correntes: a que
valoriza o conteúdo, a que valoriza a forma e a que valoriza a palavra de
estação. O haicai não é poema que se resolve por si, não é produto final, como
a trova, por exemplo, cuja mensagem é entregue pronta e acabada para o leitor.
Daí que há quem diga que haicai não é poesia. É sugestão poética, ensinam os
mestres. Há uma frase atribuída a Bashô, que diz o seguinte: “por trás das
poucas linhas [do haikai] existe uma cultura milenar. Primeiro adquirir a
atitude para depois compreender”
Segundo o escritor Paulo
Franchetti um bom haicai é aquele que tem a modéstia e o despojamento da
linguagem como valores centrais, aquele que não se satisfaz na banal exibição
de virtuosidade técnica ou capacidade de associação brilhante. Um bom haicai é
um texto que se limita voluntariamente a apenas situar uma dada percepção
sensória, objetiva, num campo maior de referências (objetivas ou subjetivas)
onde ela ganhe sentido e componha um quadro único; um texto que traz para o
leitor a presentificação de um instante como algo inacabado, aberto, um esboço
ou um diagrama do choque entre a sensação fugaz e irrepetível e seu longo ou
profundo ecoar nas diversas cordas da sensibilidade e da memória.
Abaixo deixo uns exemplos do Paulo
Leminski e Alice Ruiz. Boa leitura!
Primeiro frio do ano
fui feliz
se não me engano
Paulo Leminski
tudo começa
do mesmo jeito
diferente
o que se quebra
pesa mais
do que o sonho leva
como se o dia
não passasse
dessa noite
Autora: Alice Ruiz
Por Claudio Castoriadis
Por Claudio Castoriadis
Claudio Castoriadis é Professor e blogueiro. Formado em Filosofia pela UERN. Criador do [ Blog Claudio Castoriadis ] Tem se destacado como crítico literário.Seu interesse é passar o máximo de conhecimento acerca da cultura > |