segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Poesia concreta: hibridismo metalinguístico




O poeta é um louco, já nos dizia Platão, num sentido positivo, sendo esse louco digno de louvor pela conquista do espírito transgressor presente no processo de criação das obras de arte. Livre pela disposição para o diálogo com as rupturas estéticas, as pedras, palavras, são atiradas nas margens do que se manifesta em todas as instâncias da literatura que congrega em si a unidade das vias e relações com a vida. 

O poema se constrói com signos que representam, enunciados mágicos, claros e obscuros, ele conduz o pensamento do leitor por um passeio próprio: o fazer poético, voo sinestésico. Um coro de informações cognitivas trazidas pela ação diacústica. Contudo a circulação efetiva nesse contexto não é guiada, ela é relançada sem parar. 

A poesia concreta surge no cenário literário mundial graças à iniciativa dos poetas Décio Pignatari, Haroldo de Campos e Augusto de Campos. Suas primeiras experiências foram publicadas na revista Noigandres, fundada pelo grupo em 1952. Para eles havia uma crise na tradição poética, como acontecera uma crise do artesanato na era pré-Revolução Industrial. Por tanto, era preciso criar uma nova forma de expressão, pratica, inovadora, mais direta que exprimisse uma nova realidade. Influências? Poetas na linha do Mallarmé, Ezra Pound, Cummings, Apollinaire, escritores revolucionários como James Joyce, futuristas e os dadaístas. Com o mesmo fôlego foram garimpando autores marginalizados como Sousândrade e Kilkerry. 
 
Vários recursos visuais, condensação de sentidos, profundidade, multiplicidade de cores, condição natural, visão planetária da criação, diversas leituras possíveis gradualmente na mesma leitura: essa é a característica do concretismo. Símbolo de ousadia. Uma estética descortinada pela interdisciplinaridade do hibridismo metalinguístico. 

Graças a seu caráter crítico e muitas vezes antecipatório, a "Poesia Concreta" se abre, como realização e desvelamento da natureza em ebulição.  A jovial poesia, que não se conforma, não se desgasta no longo – curto prazo da vida- constitui um bálsamo de experimentos, sendo o receptáculo ideal de confluências, imagens, nuances e dissonâncias. Sua amplitude materializa e se consubstancia como experimento concreto desconstrucionista da realidade.

Para o leitor resta o desafio de explorar ao máximo as camadas materiais do significante, num processo de interação (correlato ontológico) “advento de uma nova ordem poética” verbi-voco-visual, exagerando nas inovações das esferas semânticas, tons, sintática, léxica, morfológica, fônica, tipografia, não poupando o uso da polissemia, radicalizando neologismos, fazendo bom uso de assonâncias e ideias.



Bem vindo ao mundo concreto do real. 



Por Claudio Castoriadis













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