quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

CORRESPONDÊNCIAS: cartas e pequenas resenhas dos grandes pensadores




Strindlberg a Nietzsche


Final de novembro de 1888

Honorável, senhor Nietzsche,

                 Indubitavelmente, o senhor deu à humanidade o livro mais
        Profundo que ela possui e, o que não é pouco, o senhor teve a
        coragem, e talvez o desejo, de cuspir no rosto da gentalha essas
        palavras soberanas. Eu lhe agradeço! Entretanto me parece que,
        de acordo com sua lealdade de espírito, o senhor exagerou um
        Pouco nos elogios ao tipo criminoso. Considere as centenas
        de fotografias que elucidam o criminoso de Lombroso e com-
         cordará comigo que criminoso é um animal vil, degenerado,
        Fraco, que não possui as faculdades necessárias para contornar
         os parágrafos da lei que opõem sólidos obstáculos a sua vontade
         E a sua força. Observe bem a expressão de estúpida moralidade
          dessas fisionomias perfeitamente animalescas, que decepção para
          a moral!

                E o senhor quer então ser traduzido na nossa língua groen-
         landesa! Por que não em francês ou inglês? O senhor pode
         Julgar o estado da nossa intelectualidade pelo fato de que quise-
         ram me internar em um hospício, por causa da minha tragédia,
         e de que um espírito tão rico e sutil quanto o de Brandês possa
         ter sido reduzido ao silêncio por esse bando de “imbecis”

                Coloco no final de todas as cartas que escrevo aos amigos:
          leiam Nietzsche! È meu Cartago est delenda!

                 Em todo caso, sua grandeza diminuirá, a partir do instante
         em que o senhor for reconhecido e compreendido; o feliz popu-
        lacho já começa a tratá-lo com intimidade, como um dos seus. é
        melhor preservar seu retiro e permitir que nós, 10 000 homens
        superiores, façamos uma peregrinação secreta ao seu santuário
        para dele tirar o maio proveito. Permita-nos intacta e pura e não
        divulga-la, a não ser por intermédio de seus devotados discípulos,
        em nome dos quais me subscrevo

                                                                                           August Strindberg



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De Nietzsche para Overbeck

                                                                                                 Nice, início de março de 1884

...  Céus! quem pode saber o que carrego sobre mim e de que força precisaria para me supostar! Não saberia dizer como conseguir chegar a isso, exatamente- mas é possível que, pela primeira vez, tenha tido o pensamento que divide ao meio a história da humanidade.
    Esse Zaratustra é apenas prólogo, prêambulo, vestíbulo- precisei tomar coragem, pois, de toda parte, tudo vinha me desencorajar: coragem para carregar esse pensamento!Pois ainda estou longe de poder dizê-lo e representálo, se ele for verdadeiro, ou melhor, se for considerado verdadeiro- então, todas as coisas vão se modificar, vão virar do avesso, e todos os valores que prevaleceram até então serão desvalorizados...


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Che guevara:  Carta de despedida aos filhos.
                                                                                     
                                                                                                                                    La Habana, 1967

      Queria Hildita, aleidita,camilo, célia e Ernesto
      Se alguma vez tiverem que ler esta carta, será porque eu não estarei mais entre vocês. Quase não se lembraram de mim e os mais pequenos não recordarão nada,
      O pai de voçês tem sido um homem que atua e, certamente, leal a suas convicções.
      Cresçam como bons revolucionários. Estudem bastante para poder dominar as técnicas que permitem dominar a natureza.
      Sobretudo, sejam sempre capazes de sentir profundamente, qualquer injustiça praticada contra qualquer pessoa em qualquer parte do mundo.
Essa é a qualidade mais linda de um revolucionário.
     Até sempre, meus filhos. Espero vê-los ainda.
     Um beijo e um abraço do papai.


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De Nietzsche para Lou Salomé


"...que cartas as suas, Lou! Parecem de colegial vingativa! Que tenho eu a fazer com esta msérias? Compreendame, enfim! Desejo que diante de mim você se sinta engrandeçida e não que diminua mais ainda. Como perdoar-lhe se não encontro em voçê as qualidades pelas quais você mereceria perdão...Como você é pobre em veneração, em gratidão, em delicadeza- e não me refiro a qualidades mais altas ainda.
    jamais me enganei sôbre ninguém: vi em você aquele egoísmo sagrado que nos força a ceder o que de nobre existe em nós. Não compreendo por que malefício você conseguiu transformá-lo em seu contrário: o egoísmo do gato que só ambicionava a vida...Adeus, cara Lou! Não nos veremos nunca mais"



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Em 1933, por ocasião de seus 50 anos, Benito Mussolini recebeu da direção do “Arquivos Nietzsche” o seguinte telegrama:
 "Ao magnífico discípulo de Zaratustra, sonhado por Nietzsche; ao genial restaurador dos valores aristocráticos, no espírito de Nietzsche, envia o” Arquivos- Nietzsche”, em profundíssima veneração e admiração, os mais fervorosos votos de felicidades".


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Monólogo de Fausto

“Que o sol permaneça nas minhas costas
A queda d água, correndo sobre a rocha,
Eu a olho com deleite crescente.
De queda em queda ele rola agora precipitando-se
Jorrando em mais de mil correntezas,
Jogando no ar as espumas
Maravilhoso como desta tempestade brota
O arco colorido que sempre muda, sempre dura
Ora nítido, ora dissolvendo-se no ar
Dissipando frêmitos frescos e perfumados.
Ele reflete o desejo humano
Contemple-o e tu compreenderás melhor:
Das refrações da cor nós tiramos nossa vida.”

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