quinta-feira, 11 de agosto de 2011

O evangelho segundo Nietzsche.

                                     Por Claudio Castoriadis


A novidade da análise nietzschiana acerca da cultura consiste em sua postura permeada de comunicações inauditas utilizando palavras antigas. Seus escritos de tão bem trabalhados se tornam uma obra de arte. Sua fala que muitas vezes gravita em tradições linguístico-religiosas chega a dar um ar de paródia da tradição cristã. De fato existe uma forte tendência entre tantos intelectuais de nosso tempo em considerar sua aparição como “evangelista” sendo tal postura um traço fundamental de sua filosofia. Basta uma breve leitura do seu assim falou Zaratustra para podemos perceber uma inclinação bíblica estritamente poética. Seja como professor da cadeira de filologia clássica ou como filósofo intempestivo, Nietzsche deverás sempre proferiu um tipo de evangelho que clamava uma cultura fiel as forças essenciais da natureza e da vida. Contudo, acerca do seu evangelho seria importante enfatizar que não se trata de um consolo utópico guiado por diretrizes redentoras como, por exemplo: a república de Platão, a nova Atlântida de Francis Bacon, o comunismo marxista ou o consolo compassivo do cristianismo. Muito pelo contrário, acreditando que as diferenças e injustiças são próprias do mundo seu evangelho não promete um sol, sossego, brandura, paciência, remédio ou balsamo. Com rigor suas parábolas e versículos edificam uma escola da suspeita (Schule Des Verdachts) de onde surgirão filósofos legisladores implacáveis, terríveis e tirânicos, estes cientes que crescimento do homem só é possível quando se leva em conta sua grandeza atrelada também no profundo e terrível.
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