domingo, 18 de maio de 2014

A pedra do reino: peripécias e façanha de uma epopeia.




O mestre Ariano Suassuna domina diversos elementos constituintes do folclore nordestino com seu dramatismo bem humorado. Para compor a ambientação de seu romance, o autor utiliza-se de um processo ditirâmbico regional, no qual condensa no discurso da narrativa, um universo simbólico a partir de uma ampla gama de gêneros literários.

Dessa maneira, encontramos em sua monumental estética o resgate de elementos ibélicos e medievais convergindo na exaltação da heráldica como arte popular pluralística. Sua escrita configura-se em métodos multifacetados que comportam em suas provocações inúmeras projeções metafóricas conferindo ao texto um caráter literário orgânico. 

Um espetáculo de personagens desfila no grande palco que é o Romance d´A Pedra do Reino. Personagens inspirados na cultura sertaneja e no gosto do autor pelas “demandas novelosas, embandeiradas e epopeicas”. Escrito em 1971, o livro do filósofo paraibano é um misto de romance de cavalaria e novela picaresca. A obra mostra Lendas, sebastianismo, fatos verídicos, muita, romancistas, cordelistas, cantadores e repentistas do sertão. 

Em torno dessas colocações, pode-se dizer que o escritor, quando escreveu A Pedra do Reino, promoveu os gêneros narrativos mais diversos, o que pode nos revelar a tentativa de absorção das experiências advindas de outras modalidades literárias, com o fim de realizar a sua própria unidade estilística.  

Segundo Suassuna sua obra não é regionalista, nem tampouco romance rural, como considera boa parte dos críticos e eruditos – por apresentar características marcantes alguns elementos da arte regional- literários. Suassuna se opõe ao regionalismo pelo fato de tal estilo se apresentar como neonaturalismo, uma visão realista da realidade, conforme preconizado pelo naturalismo no século XIX. Aliado a isso, tem-se, ainda, a superação do caráter regional pelo teor universalizante de sua obra. E o que contribui para explicitar essa universalidade, é a proposta do autor de utilizar elementos mágicos e circenses que não correspondem ao universo regionalista. As palavras de Suassuna são atestadas por Idelette Muzart Fonseca dos Santos que afirma que a relação do autor com “a cultura oral e popular nordestina, em vez de limitar a obra de Suassuna a um regionalismo ou nacionalismo estreito, incentiva a uma viagem dentro das culturas brasileiras e universais”.  


Sobre o autor

Sexto ocupante da Cadeira nº 32, eleito em 3 de agosto de 1989, na sucessão de Genolino Amado e recebido em 9 de agosto de 1990 pelo Acadêmico Marcos Vinicios Vilaça. Ariano Vilar Suassuna nasceu em Nossa Senhora das Neves, hoje João Pessoa (PB), em 16 de junho de 1927, filho de Cássia Villar e João Suassuna. No ano seguinte, seu pai deixa o governo da Paraíba e a família passa a morar no sertão, na Fazenda Acauhan.

A partir de 1942 passou a viver no Recife, onde terminou, em 1945, os estudos secundários no Ginásio Pernambucano e no Colégio Osvaldo Cruz. No ano seguinte iniciou a Faculdade de Direito, onde conheceu Hermilo Borba Filho. E, junto com ele, fundou o Teatro do Estudante de Pernambuco. Em 1947, escreveu sua primeira peça, Uma Mulher Vestida de Sol. Em 1948, sua peça Cantam as Harpas de Sião (ou O Desertor de Princesa) foi montada pelo Teatro do Estudante de Pernambuco. Os Homens de Barro foi montada no ano seguinte.

Entre 1958-79, dedicou-se também à prosa de ficção, publicando o Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta (1971) e História d’O Rei Degolado nas Caatingas do Sertão / Ao Sol da Onça Caetana (1976), classificados por ele de “romance armorial-popular brasileiro”.

Ariano Suassuna construiu em São José do Belmonte (PE), onde ocorre a cavalgada inspirada no Romance d’A Pedra do Reino, um santuário ao ar livre, constituído de 16 esculturas de pedra, com 3,50 m de altura cada, dispostas em círculo, representando o sagrado e o profano. As três primeiras são imagens de Jesus Cristo, Nossa Senhora e São José, o padroeiro do município.

Membro da Academia Paraibana de Letras e Doutor Honoris Causa da Faculdade Federal do Rio Grande do Norte (2000).


Por Claudio Castoriadis
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