terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Heidegger: filosofia e poesia


Para chegar à poesia, Martin Heidegger antes correu seu pensamento pelo ser, pelos conceitos "mundo" e "terra" pela "verdade" e pela obra de arte. Curiosamente, uma menção ao filósofo em um livro sobre literatura portuguesa, cujo autor, Fernando Guimarães, em nota, menciona a repercussão do pensamento heideggeriano na cultura portuguesa. Segundo Guimarães, um importante poeta do chamado primeiro modernismo português, Almada Negreiros, mostrou grande interesse pelo pensador alemão, tendo adotado suas ideias filosóficas em seus escritos críticos.

A poesia é para Heidegger a detentora da capacidade de se obter uma experiência – Erfahrung – com o mundo e uma forma de expressar o pensamento negligenciado pela metafísica tradicional do ocidente. Com efeito, quando trata da noção de poesia detalha a linguagem uma vez que ele aponta a poesia como forma de libertar o Ser aprisionado pela sociedade moderna marcada pela técnica e os inúmeros resultados da tradição de pensamento iniciada pela filosofia clássica que escorre até Nietzsche.

Heidegger chega à conclusão de que o Ser vive imerso numa angústia envolta em pessimismo que se concretiza na inautenticidade. É neste ponto que se volta para os grandes poetas alemães como Goethe, Mörike, Stephan George, Novalis, Trakl e principalmente Hölderlin, seu poeta favorito.

Como resultado de suas reflexões, Heidegger se convence de que o rompimento com a tradição metafísica instaurada por Platão e Aristóteles, que já durava mais de dois milênios, é inevitável a fim de que a questão do Ser seja posta com a devida transparência. Assim, Heidegger se volta para os pensadores pré-socráticos, num primeiro momento, notadamente Parmênides e Heráclito de Éfeso, recuperando uma noção de pensar filosófico que considera mais original do que aquele da metafísica tradicional iniciada com Platão e Aristóteles. A cisão entre reflexão e poesia é proposta e fundada nos escritos de Platão, século IV a.C., para quem a matemática e outras formas de saber estavam ancoradas na base sólida do pensamento lógico e racional, devendo a poesia ser relegada a um status inferior.

A clássica definição do homem como ser racional está ancorada em Platão e Aristóteles, mas, sobretudo no primeiro, reforçado com o prevalecimento do homem teórico sobre o homem prático. Instaura-se assim a duradoura e inconciliável separação entre ciência e poesia e o domínio da metafísica na filosofia ocidental

Heidegger ao analisar e traduzir um fragmento de Anaximandro, um dos pré-socráticos, enfatiza que o pensamento é a poesia primordial e anterior a toda poesia. Pensar é poetizar, e, de fato, mais do que uma forma de poetizar. Pensar o Ser é a forma original do poetizar. A linguagem surge primeiramente na linguagem, isto é, em sua essência, no pensar. Todo poetizar, neste sentido mais amplo, e também no sentido mais estrito da poética, é em sua essência um pensar.

O "poeta pensante" é, em verdade, a topologia do ser. É ele quem indica onde mora a sua essência. Pensar, cuidadosamente, requer tempo e, por isso, é fundamental demorar no pensamento, fazer morada é conviver, é estabelecer um processo de intimidade.


Segundo Afonso de castro, estudioso da poesia de Monel de Barros:

Para Heidegger, é a totalidade em que o ser humano está imerso. Ele pré- existe a qualquer noção de sujeito objeto. O mundo é algo pressuposto, já dado. O mundo sendo algo já dado, englobante, está sempre presente e resiste a qualquer tentativa de objetivação. O mundo dá-se a perceber somente junto com as entidades que surgem nele. A compreensão ocorre através do mundo. Segundo Heidegger, mundo e compreensão são partes inseparáveis da constituição do Dasein.

Por Claudio Castoriadis
Imagem: fonte web
Sobre o Autor:
Claudio Castoriaids Claudio Castoriadis é Professor e blogueiro. Formado em Filosofia pela UERN. Criador do [ Blog Claudio Castoriadis ] Tem se destacado como crítico literário.Seu interesse é passar o máximo de conhecimento acerca da cultura >

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