quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Recordações da Casa de Amêndoa

As árvores e flores, as espigas de trigo e as moitas de avelã falavam comigo,
 cantei com elas suas canções e elas me compreendiam,
 exatamente como lá em casa

Sonho de uma Flauta; Hermann Hesse

Confinado, no difuso e desconfortável prazo de validade, o garoto faz de um todo, algo infinitamente vago. Desde que o universo abafou seu firmamento, debaixo daquela amêndoa, o mundo, sua tenda, da qual milhões de dilúvios encharcados consolidam um ribeiro intercalado; improvisa belas declamações bagunçadas da seiva que inunda os cantinhos do seu paraíso. Sua tenaz sensatez desabotoa sonhos com Alzheimer que dão vazão ao clarão da estrela arrancada do seu ninho reaprendendo a voar, caminhar nos trilhos alinhados no chão onde desenha outro espaço qualquer.

Como tudo começou? Como alguém chegou tão longe? Quando o dia sucedeu a noite, um segredo desmontou um vilarejo, cadenciando e cuidando, terá sido assim? Sucedeu - se dessa maneira? Um dia antes do fim, começando retrocedendo, confessando-se no conto, aceitou um pensamento, semente de crônica, clonado no intervalo do vento bambolento?

Seja metáfora, mentira
chafurdada, o garoto minguou para um mundo silencioso e alheio, onde o sol parece que foi escanchado no céu delgado, as nuvens foram varridas, o calor pega um resfriado espirrando nas horas cotidianas, flores são pássaros que brotam com um erguer de ombros, nesse lugar, as bobagens alçam vôo pintando de alegria as praças colorindo os velhinhos. O garoto vive brincando com suas dúvidas, todo dia se perde contando os dedos, muito provavelmente seus brinquedos brincam com o seu coração e na casa de amêndoa suspira sua oração plantada ao pé da roseira beijada por engano pelo lerdo que tencionava beijar uma flor. 


Por Claudio Castoriadis
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