segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Robert Kurz e o colapso do sistema capitalista


Considerado como um dos mais importantes teóricos marxistas e críticos do sistema vigente, Robert Kurz exerceu uma influência decisiva na formulação dos novos rumos dos movimentos revolucionários em todo o mundo. Kurz foi um dos fundadores, em 1986, do grupo de discussão Krisis, sediado em Nuremberg, na Alemanha, e que reunia pessoas dedicadas ao estudo e atualização da obra de Marx. O grupo começou a bancar uma revista mantida por meio de assinaturas e contribuições. Em 2004, Kurz rompeu com a Krisis e fundou uma nova revista, a Exit!. Durante os anos 1990, ele publicou diversos ensaios nas revistas Krisis e Exit!. Para realizar o estudo, Regatieri analisou cerca de 10 ensaios de autoria de Kurz, publicados de 2000 a 2003 na Krisis, e de 2004 a 2007 na Exit!

Decretando o colapso do capitalismo, projetado na derrocada do Leste Europeu e passando pelos chamados países socialistas teríamos - segundo o filósofo- uma manifestação de uma crise particular que agora ganha ênfase no sistema mundial produtor de mercadorias.

A crise final do sistema soviético foi apenas um das faiscas do estopim, que levará o mundo a uma crise em cadeia. Não há razão, porém, para desespero. O lado bom da situação seria a possibilidade da emancipação humana, que Marx almejava, que não desapareceu, nem permanece amarelada em seus escritos.

Pelo contrário, as coisas estão acontecendo basicamente como foram descritas. Através da "razão sensível", que se oporia à razão iluminista, a humanidade superará a "sociedade do trabalho", baseada na mais-valia, na exploração do trabalho tornado abstrato, a mercadoria, e na sua abstração maior, o dinheiro. E dessa forma a utopia comunista de uma sociedade sem mercadorias, sem capital nem Estado, se concretiza.

Kurz é claríssimo quanto à sua previsão da crise iminente do capitalismo: "É muito provável que o "mundo burguês do dinheiro" total e da mercadoria moderna, cuja lógica constitui, com dinâmica crescente, a chamada Era Moderna, entrará, já antes de terminar o século XX numa era de trevas, do caos e da decadência das estruturas sociais, tal como jamais existiu na história do mundo".

Teremos, portanto, uma revolução de consciências, que sempre atraiu o pensamento conservador, mas que aqui é estranhamente retomada por um marxista que pretende resgatar o marxismo de sua crise atual:

"Trata-se de uma revolução de fato, mas não daquele tipo no qual uma classe dentro da forma mercadoria (e constituída por essa) tivesse que derrotar outra 'classe'; como sujeito antípoda [...]. Mas para essa revolução, por sua vez, teria primeiro que se formar um movimento de supres-são, como força social, e isto somente é possível por meio da consciência"

Altamente contestador, seu diagnóstico também deixa o marxismo tradicional em xeque.

Segundo Kurz, o marxismo tradicional não teria condição de formular concretamente o problema da crítica da forma mercadoria e seus desdobramentos práticos. Em função disso, o marxismo tradicional se viu obrigado a proceder um desvio para a política. Uma política, não como um dado ontológico, previamente existente, mas como um conceito historicamente limitado que pertence à história da implementação do moderno sistema produtor de mercadorias.

As reformas e revoluções realizadas nesse horizonte converteram os trabalhadores em sujeitos do direito civil, em sujeitos de relações contratuais e em cidadãos modernos. Além disso, elas estabeleceram condições de trabalho modernas, mas não alteraram a essência do sistema de produção de mercadorias.

Ainda sobre o comunismo sua conclusão é aguda: "O comunismo, supostamente fracassado, que é confundido com as sociedades em colapso da modernização recuperadora, não é nem utopia nem um objetivo distante, jamais alcançável, muito além da realidade, mas sim um fenômeno já presente, o mais próximo que encontramos na realidade, ainda que na forma errada e negativa, dentro do invólucro capitalista do sistema mundial produtor de mercadorias, isto é, na forma de um comunismo das coisas, como entrelaçamento global do conteúdo da reprodução humana"
Sobre o Autor:
Claudio Castoriaids Claudio Castoriadis é Professor e blogueiro. Formado em Filosofia pela UERN. Criador do [ Blog Claudio Castoriadis ] Tem se destacado como crítico literário.Seu interesse é passar o máximo de conhecimento acerca da cultura >

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