A questão da escravidão
Publicado em 1883, doze anos após a morte do autor, Os Escravos reúne as composições anti-escravagistas de Castro Alves, entre elas, os famosos poemas abolicionistas “O Navio Negreiro” e “Vozes d’África”.
Antônio de Castro Alves nasceu em Curralinho (hoje Castro Alves), na província costeira da Bahia em 14 de março de 1847, filho de um médico. Depois de receber o melhor ensino secundário disponível, Antônio entrou na escola de direito. Ele havia começado a compor poesia ainda mais cedo e escreveu alguns dos seus poemas mais impressionantes, enquanto era estudante. Um acidente de caça levou à amputação de um pé, e ele saiu da escola. Após 9 meses de andanças pelo sertão do Brasil, estabeleceu-se em Salvador. Ele morreu de tuberculose aos 24 anos em 06 de julho de 1871. Apenas um livro de poemas, Espumas Flutuantes (1870), foi publicado antes de sua morte, mas outros foram lançado postumamente.
Castro Alves não foi o primeiro poeta romântico a tratar do tema da escravidão. Antes dele, Gonçalves Dias, Fagundes Varela e outros abordaram a questão. No entanto, nenhum poeta foi mais veemente e engajado à causa social e humanitária do abolicionismo como ele. Castro Alves procurou aprofundar as implicações humanas da escravatura adequando a sua eloquência condoreira à luta abolicionista.
O Navio Negreiro
Um dos mais conhecidos poemas da literatura brasileira, O Navio Negreiro Tragédia no Mar foi concluído pelo poeta em São Paulo, em 1868. Quase vinte anos depois, portanto, da promulgação da Lei Eusébio de Queirós, que proibiu o tráfico de escravos, de 4 de setembro de 1850. A proibição, no entanto, não vingou de todo, o que levou Castro Alves a se empenhar na denúncia da miséria a que eram submetidos os africanos na cruel travessia oceânica. É preciso lembrar que, em média, menos da metade dos escravos embarcados nos navios negreiros completavam a viagem com vida. Composto em seis partes, o poema alterna métricas variadas para obter o efeito rítmico mais adequado a cada situação retratada. Assim, inicia-se com versos decassílabos que representam, de forma claramente condoreira, a imensidão do mar e seu reflexo na vastidão dos céus. Deixo aqui aos leitores a primeira parte desse lindo poema.
“'Stamos em pleno mar... Doudo no espaço
Brinca o luar - dourada borboleta;
E as vagas após ele correm... cansam
Como turba de infantes inquieta.
'Stamos em pleno mar... Do firmamento
Os astros saltam como espumas de ouro...
O mar em troca acende as ardentias,
- Constelações do líquido tesouro...
'Stamos em pleno mar... Dois infinitos
Ali se estreitam num abraço insano,
Azuis, dourados, plácidos, sublimes...
Qual dos dous é o céu? qual o oceano?...
'Stamos em pleno mar. . . Abrindo as velas
Ao quente arfar das virações marinhas,
Veleiro brigue corre à flor dos mares,
Como roçam na vaga as andorinhas.
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É interessante lembrar que o poema se inicia com a supressão da vogal e inicial da palavra Estamos, grafada ‘Stamos para que o poeta forme um verso decassílabo. É um recurso tipicamente romântico: a expressão suplanta o cuidado formal.
A arte da sua escrita brinda seus leitores quando suplanta o cuidado formal com expressões próprias de um artesão das palavras com técnicas através de versos heptassílabos, heterossílabos, alternando decassílabos, hexassílabos.
Boa Leitura!!
Por Claudio Castoriadis
Claudio Castoriadis é Professor e blogueiro. Formado em Filosofia pela UERN. Criador do [ Blog Claudio Castoriadis ] Tem se destacado como crítico literário.Seu interesse é passar o máximo de conhecimento acerca da cultura > |