quinta-feira, 19 de julho de 2012

NIETZSCHE UMA COMPREENSÃO DA CULTURA DO OCIDENTE COMO SINTOMA DE DECADÊNCIA MORAL

2.2.  Psicologia e moral: uma Filosofia de forças


A reflexão de Nietzsche sobre a moral remete diretamente a um exame do que tem sido a história humana. Pondo sob suspeita nossas convicções, com primazia Nietzsche traça o perfil do comportamento dos homens no decorrer da história, identificando a relações de mando e de obediência. Uma reflexão social? Também; visto que seu procedimento busca justificativas plausíveis para as gritantes diferenças dos poucos que mandam e outros muitos que obedecem.
Permanecendo no terreno de uma psicologia e de uma antropologia, estreitando ainda a relação da filologia com a história, Nietzsche examina a cultura dos antigos, a civilizações já extintas, fazendo comparações entre épocas. No decorrer da sua investigação dos valores, além da fisiologia outras perspectivas estrategicamente são incorporadas: a perspectiva histórica e a etimológica, que acabam por identificar-se com a perspectiva sociológica. Porém, Nietzsche não perde de vista em nenhum momento o papel privilegiado da psicologia como análise do mundo e da crítica dos valores:  
Nas passagens em que trata especificamente da psicologia, Nietzsche ressalta a necessidade de romper com a metafísica no exame das questões morais, destaca o auxílio que a história pode prestar na reflexão sobre elas e ainda, em suas análises, salienta a importância de praticar, como os moralistas franceses, a anatomia moral. Nos escritos de 1888, esforça-se, porém, no sentido de esclarecer que a psicologia, tal como a concebe, não se confunde com a mera observação — seja ela simplesmente reflexiva ou voltada para o mundo circundante.  (Marton, 1990, p.71).
A partir desse ângulo pretendeu principiar um caráter científico às investigações morais, no intuito de banir em definitivo qualquer vínculo desta com a metafísica. Com efeito ele analisa a moral como uma interpretação de tipos de fenômenos, uma moral ou perspectiva avaliadora compreendida como espelho. Afinal, ela traz o reflexo de possíveis realidades da civilizações.
Enfim, no primeiro momento quando Nietzsche vê nos moralistas franceses a referência central no que tange ao estudo da psicologia, ao mesmo tempo compreende a estreita relação entre questões psicológicas e os estudos históricos. Nesse caso, Nietzsche pensa a psicologia como ciência que investiga a origem e a história dos sentimentos morais. A rigor, podemos ser mais precisos na pesquisa da moral como condição de vida e sua possível genealogia se levamos em consideração a tal abordagem psicológica inserida no contexto da doutrina nietzschiana. Corrosiva, sua psicologia não se confunde com uma mera observação:
 Seja qual for o resultado dos prós e dos contras: no presente estado de uma determinada ciência, o ressurgimento da observação moral se tornou necessário, e não pode ser poupada à humanidade a visão cruel da mesa de dissecação psicológica e de suas pinças e bisturis. Pois aí comanda a ciência que indaga a origem e a história dos chamados sentimentos morais, e que ao progredir, tem de expor e resolver os emaranhados problemas sociológicos- a velha filosofia não conhece em absoluto estes últimos, e com precárias evasivas sempre escapou à investigação sobre a origem e a história dos sentimentos morais.  (Nietzsche,b 2005, p.43)
 
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