2.2. Psicologia e moral: uma Filosofia de forças
A reflexão de Nietzsche sobre a moral remete
diretamente a um exame do que tem sido a história humana. Pondo sob suspeita
nossas convicções, com primazia Nietzsche traça o perfil do comportamento dos
homens no decorrer da história, identificando a relações de mando e de
obediência. Uma reflexão social? Também; visto que seu procedimento busca
justificativas plausíveis para as gritantes diferenças dos poucos que mandam e
outros muitos que obedecem.
Permanecendo no terreno de uma psicologia e de uma antropologia,
estreitando ainda a relação da filologia com a história, Nietzsche examina a
cultura dos antigos, a civilizações já extintas, fazendo comparações entre
épocas. No decorrer da sua investigação dos valores, além da fisiologia outras
perspectivas estrategicamente são incorporadas: a perspectiva histórica e a
etimológica, que acabam por identificar-se com a perspectiva sociológica.
Porém, Nietzsche não perde de vista em nenhum momento o papel privilegiado da
psicologia como análise do mundo e da crítica dos valores:
Nas passagens em que trata
especificamente da psicologia, Nietzsche ressalta a necessidade de romper com a
metafísica no exame das questões morais, destaca o auxílio que a história pode
prestar na reflexão sobre elas e ainda, em suas análises, salienta a
importância de praticar, como os moralistas franceses, a anatomia moral. Nos
escritos de 1888, esforça-se, porém, no sentido de esclarecer que a psicologia,
tal como a concebe, não se confunde com a mera observação — seja ela simplesmente
reflexiva ou voltada para o mundo circundante.
(Marton, 1990, p.71).
A partir desse ângulo pretendeu principiar um
caráter científico às investigações morais, no intuito de banir em definitivo
qualquer vínculo desta com a metafísica. Com efeito ele analisa a moral como
uma interpretação de tipos de fenômenos, uma moral ou perspectiva avaliadora
compreendida como espelho. Afinal, ela traz o reflexo de possíveis realidades
da civilizações.
Enfim, no primeiro momento quando Nietzsche vê nos
moralistas franceses a referência central no que tange ao estudo da psicologia,
ao mesmo tempo compreende a estreita relação entre questões psicológicas e os
estudos históricos. Nesse caso, Nietzsche pensa a psicologia como ciência que
investiga a origem e a história dos sentimentos morais. A rigor, podemos ser
mais precisos na pesquisa da moral como condição de vida e sua possível
genealogia se levamos em consideração a tal abordagem psicológica inserida no
contexto da doutrina nietzschiana. Corrosiva, sua psicologia não se confunde
com uma mera observação:
Seja qual for o resultado dos prós e dos
contras: no presente estado de uma determinada ciência, o ressurgimento da
observação moral se tornou necessário, e não pode ser poupada à humanidade a visão
cruel da mesa de dissecação psicológica e de suas pinças e bisturis. Pois aí
comanda a ciência que indaga a origem e a história dos chamados sentimentos
morais, e que ao progredir, tem de expor e resolver os emaranhados problemas
sociológicos- a velha filosofia não conhece em absoluto estes últimos, e com precárias
evasivas sempre escapou à investigação sobre a origem e a história dos
sentimentos morais. (Nietzsche,b
2005, p.43)
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