terça-feira, 13 de março de 2012

A moda nossa de cada dia.

Uma temática que penso ser bastante relevante para o comportamento humano é a questão da moda. Pensar uma tendência que a cada dia ganha mais seu espaço em nosso cotidiano deveria ter mais relevância no mundo intelectual. De uma abordagem artificial seria mais sensato que tal fenômeno fosse trabalhado com bastante cuidado: no momento mesmo em que a moda não cessa de ganhar importante espaço em nosso meio social, não cessa de acelerar sua legislação fugidia, de invadir novas esferas, ganhar novos horizontes, de arrebatar em seu contexto todas as camadas sociais, todos os grupos de idade, deixa impassíveis aqueles que têm vocação de elucidar as forças e o seu encanto no funcionamento das sociedades modernas. Como se fosse uma paisagem, a moda é celebrada no museu, a moda nossa de cada dia é relegada à antecâmara das preocupações intelectuais reais; não podemos negar que a mesma está por toda parte na rua, na indústria e na mídia, porém quase não aparece de forma detalhada nos grandes pensamentos teóricos das cabeças pensantes. Esfera tipicamente artificial, por assim dizer, e socialmente inferior, não merece a investigação problemática; questão superficial que desencoraja a abordagem conceitual; a moda suscita o reflexo crítico antes de estudo objetivo, é evocada principalmente para ser fastigada, para marcar sua distância, para deplorar o embotamento dos homens e o vício dos negócios: a moda é sempre os outros. Com isso, o que nos resta na maioria das vezes são, breves resenhas, crônicas jornalísticas, subdesenvolvidos em matéria de compreensão histórica e social do fenômeno. Ora, a moda com um certo grau de raciocínio segue uma linha  existencialista, pode ser pensada como sendo a maneira de vestir-se e comportar-se, não importa os limites e convenções sociais, o sujeito sempre afirma sua identidade mediante uma moda, e para isso a escolha de um estilo de vida e estética é imprescindível. Mediante essas considerações como não pensar a moda como um meio de exercer a liberdade, sempre inventando, criando e recriando?

Por Claudio Castoriadis
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