sábado, 3 de setembro de 2011

Kant: uma nova revolução copernicana

 Por Claudio Castoriadis

Nunca sistema algum de pensamento dominou tanto uma época como a Filosofia de Emanuel Kant dominou o pensamento do século dezenove. Após quase sessenta anos de desenvolvimento quieto e retirado, o misterioso Filósofo de Kónigsberg despertou o mundo de sua "sonolência dogmática", em 1781, com a sua famosa Crítica da Razão' Pura; e daquele ano até agora a "filosofia crítica" tem dominado o campo especulativo da Europa. Kant nasceu em 1724 em Kónigsberg, Prússia. Com a exceção do pequeno período em que ensinou numa aldeia próxima, esse sossegado professor, que gostava tanto de discorrer sobre a geografia e etnologia de terras distantes, nunca saiu de sua cidade natal. Em 1755, Kant começou seu trabalho conto instrutor da Universidade de Kónigsberg. Durante quinze anos deixaram-no neste posto subalterno; duas vezes foi recusado seu pedido de se tornar professor. Finalmente, em 1770, foi nomeado professor de lógica e metafísica. Após muitos anos de experiência como professor, escreveu um livro didático sobre pedagogia e costumava dizer dele que continha muitos preceitos excelentes nenhum dos quais ele jamais aplicara. E no entanto foi talvez um melhor professor do que escritor; duas gerações de estudantes aprenderam a amá-lo. Um de seus princípios práticos era prestar mais atenção aos alunos de capacidade média; os tolos, dizia ele. não podiam ser auxiliados, e os gênios tratariam de si mesmos.


"das coisas conhecemos a priori só que nós mesmos colocamos nelas".


Kant é considerado como o maior filósofo do Iluminismo alemão. Em seu texto O que é a ilustração, o filósofo sintetiza o otimismo iluminista em relação à possibilidade de o homem se guiar por sua própria razão, sem se deixar enganar pelas crenças, tradições e opiniões alheias. Com rigor, Ele apresenta o processo de ilustração como sendo "a saída do homem de sua menoridade" e a tomada de consciência por ele da autonomia da razão na fundamentação do agir humano. O ser humano, como ser dotado de razão e liberdade, é o centro da filosofia kantiana. Quando a teoria geocêntrica não mais conseguia explicar o conjunto de movimentos dos astros, Copérnico vislumbrou a necessidade de tirar-nos do centro do Universo. E, lançando o modelo heliocêntrico, ele resolveu todos os impasses da astronomia da época. Da mesma forma, invertendo a questão tradicional do conhecimento, o papel que Kant atribuiu ao sujeito representou para a filosofia uma revolução comparável à de Copérnico na astronomia. Antes de Kant, afirmava-se que a função de nossa mente era assimilar a realidade do mundo. Nessa operação, alguns filósofos só consideravam importante a atividade mental do sujeito (Racionalismo dogmático), enquanto outros ressaltavam o papel determinante do objeto real exterior (empirismo). Através de seu racionalismo crítico, Kant tentou formular a síntese entre sujeito e objeto, entre racionalismo dogmático e empirismo, mostrando que, ao conhecermos a realidade do mundo, participamos de sua construção mental, ou seja: "das coisas conhecemos a priori só que nós mesmos colocamos nelas".


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