Como
um sério problema de saúde pública, a prevenção do comportamento suicida não é
uma tarefa fácil. Uma estratégia nacional de prevenção, como a que se organizou
no Brasil a partir de 2006, envolveu uma série de atividades, em diferentes
níveis, e uma delas foi a qualificação permanente das equipes de saúde. Uma vez
que várias doenças mentais se associam ao suicídio, a detecção precoce e o
tratamento apropriado dessas condições são importantes na sua prevenção. O que
pensou alguns filósofos e intelectuais sobre o assunto? Conheça um pouco alguns
pensadores que lidaram com esse sentimento extremamente delicado diante de tantos
horrores inflamados por tal problemática.
Nada mais sensato para começar a tratar uma temática tão virulenta para o ser humano do que pensar o sentido último de uma pessoa depressiva: a busca da felicidade. É bem verdade que todo aquele que existe deseja continuar existindo o mais distante dos sofrimentos e infortúnios. Afinal, não seria a felicidade o que realmente interessa a todo ser vivente? O filósofo Pascal já dizia: "Todos os homens procuram ser felizes; isso não tem exceção... É esse o motivo de todas as ações de todos os homens, inclusive dos que vão se enforcar..."
Nada mais sensato para começar a tratar uma temática tão virulenta para o ser humano do que pensar o sentido último de uma pessoa depressiva: a busca da felicidade. É bem verdade que todo aquele que existe deseja continuar existindo o mais distante dos sofrimentos e infortúnios. Afinal, não seria a felicidade o que realmente interessa a todo ser vivente? O filósofo Pascal já dizia: "Todos os homens procuram ser felizes; isso não tem exceção... É esse o motivo de todas as ações de todos os homens, inclusive dos que vão se enforcar..."
Temos mediante essas considerações o desejo de felicidade se convertendo no desejo de morte. Ou seja, um tipo de busca da felicidade a qualquer custo. Sobre o assunto comenta Freud: "Se a gente reconhece os motivos
egoístas por trás da conduta humana, não tem o mínimo desejo de voltar à
vida; movendo-se num círculo, seria ainda a mesma. Além disso, mesmo se
o eterno retorno das coisas, para usar a expressão de Nietzsche, nos
dotasse novamente do nosso invólucro carnal, para que serviria, sem
memória? Não haveria elo entre passado e futuro. Pelo que me toca, estou
perfeitamente satisfeito em saber que o eterno aborrecimento de viver
finalmente passará. Nossa vida é necessariamente uma série de
compromissos, uma luta interminável entre o ego e seu ambiente. O desejo
de prolongar a vida excessivamente me parece absurdo." Declaração importante que traz à tona um esbanjamento de palavras pondo em questão a felicidade, o sentido da vida e a problematização do suicídio.
Seguindo esse raciocínio certa vez indagou o filósofo Emil cioran : Por
que não me mato? Que vale lembrar não se matou,
mas certamente desejou fazê-lo muitas vezes. Ideias como essa são típicas de
uma mente suicida. Encarar a morte de frente tencionando a libertação a
qualquer custo, mais do que coragem, exige consciência de que tudo está
perdido, nada faz sentido e não há mais saídas no vasto horizonte da vida? Os
casos de suicídios na sua maioria das vezes são marcados por um contorno
peculiar: a solidão. Geralmente suicidas são solitários alheios ao mundo. O
filósofo Cioran por sua vez visualiza na solidão um ar apropriado para
culminar o ato da seguinte maneira: “Quando levantamos em meio à noite buscando
desesperadamente por uma derradeira explicação, mas ao constar a nossa solidão,
porque todos dormem, desistimos de nossa intenção, pois como abandonar um mundo
onde se pode ainda estar sozinho?”
Sem
dúvidas um relato medonho do filósofo romeno sobre os infortúnios da vida.
Podemos notar esse sentimento constante em sua obra O Mau Demiurgo. Cioran
chega a dizer que “faz bem pensar que a gente vai se matar”. Palavras de um
pensador atormentado e trágico retratando sua desgraça de ser.
Ainda em uma entrevista o mesmo declarou: na minha juventude eu vivi com essa
ideia do suicídio. Mas tarde também, e até agora, mas talvez não com a mesma
intensidade. E se eu ainda estou vivo é graças a ela, ela foi meu suporte: “És
mestre de tua vida, podes matar-te quando quiseres, e todas as minhas loucuras,
todos meus excessos, foi assim que eu pude suportá-los. E pouco a pouco essa
ideia começou a se tornar algo como Deus para um cristão, um apoio; eu tinha um
ponto fixo na vida.” Apesar desse relato Cioran não se suicidou, morreu
naturalmente aos 84 anos.
Coragem
ou covardia? O fato é que o filósofo Cioran representa um pouco nossa realidade
marcada pelo medo do nada, da possibilidade do não ser. Um mundo que beira cada
vez mais ao vazio da existência; uma série de
compromissos, e luta intermináveis entre o ego e seu ambiente como disse o Freud. Um mundo doente alienado pelo consumismo. Já
não causa espanto ver pessoas chocadas e neuróticas com os absurdos do mundo. A
recusa da comunidade pode ser considerada um isolamento auto-destrutivo, mas para
muitos parece mais preferível do que
declarar submissão à fabrica diária de um crescente mundo auto-destrutivo.
Alienação coletiva não é uma condição escolhida por aqueles que insistem no
verdadeiramente social sobre o falsamente comunal. Está presente em qualquer
caso, pelo conteúdo da comunidade. Frente ao abismo do existir e conviver em
uma comunidade ignóbil o filósofo Nietzsche desabafa: “A ideia de suicídio é um poderoso
consolo: ela ajuda a passar mais de uma noite ruim.” Certamente as ruínas estão
aí para todos verem. Uma paisagem mórbida e cruel. Incluindo formas impotentes
pronunciadas de "progresso" que não passam de
"micropolíticos" e "esquizopolíticas", óbvios sintomas de
uma fragmentação e desespero em cadeia. Nós existimos em uma "paisagem de
ausência" na qual a vida real está sendo sistematicamente massacrada pelo
falso ciclo do consumismo e das futilidades mediadas pela dependência tecnocratica. Mas se por um lado Cioran cultivava na solidão e na ideias de suicídio um sentido
sublime em Nietzsche a solidão é, pois, restauradora; mais ainda, ela
converte-se na marca distintiva do seu ser. Não é por acaso que a angústia impregnada na solidão se põe como condição necessária para o seu pensar. “Tenho
necessidade de solidão”, assegura Nietzsche.
Mas
nem todos conseguem lidar com as amarguras da vida. Hoje, parece
que vivemos de uma forma negativa. São vários os fatores que influenciam na doença
da alma. Os problemas psíquicos (que recebem os nomes da moda, de acordo com os
interesses dos especialistas, produtores e reprodutores do mercado consumidor
composto pelos portadores de tais problemas, consumidores de remédios,
terapias, psicocirurgias etc.) assombram os seres humanos, condenados em uma
existência alienada, ao lazer alienado, ao mundo depalperado. Resultado? O comportamento suicida vem ganhando impulso em termos numéricos e principalmente de impacto. Como foi dito, a
morte voluntária é o extremo da solidão, angústia e desespero.
Suicidas:
doentes? Covardes? Quem sabe ao certo? Como compreender o sofrimento contido na
própria solidão? Desejar a morte realmente é a solução? Como explicar ao certo a busca pela morte? Que
essa problemática não se limite apenas ao enfoque especulativo. Faz-se
necessário a transmissão
de informações básicas que possam orientar a detecção precoce de certas
condições mentais associadas ao comportamento suicida, bem como o manejo
inicial de pessoas que se encontrem sob risco suicida e medidas de prevenção.
Por Claudio Castoriadis
Referências
-ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Prevenção do suicídio: um manual para profissionais da saúde em atenção primária. Genebra, 2000.
-www.conhecimentopratico.com.br/filosofia
-http://www.freudpage.info/entrevista_freud-3.html
Sobre o Autor:
Claudio Castoriadis |