segunda-feira, 25 de março de 2024

como uma escavadeira vai se gastando pelo tempo que atravessa.

muitas vezes me lembro da professora que me alfabetizou, e como ela mostrava que as letras já podiam nascer juntas, porque ela me ensinou palavras inteiras — ou foi assim que minha memória juntou — e depois dela me ensinar a escrever "claudio" ela me perguntou: "que palavras você quer escrever agora?". eu logo quis escrever "família" e a segunda palavra que eu quis foi "vida".


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muitas vezes me pego pensando que o futuro é que determina o passado e não o contrário. afinal o futuro de toda repetição é ser presente quando acontece. traços na calçada, nos pássaros, no fogo, o corpo todo marcado como uma escavadeira vai se gastando pelo tempo do que atravessa.


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mais que afeto, eu sentia devoção por essa professora que me mostrou que os sons, ou que os traços podiam juntar com outros traços que transmitiam as coisas que as pessoas diziam umas pras outras e lembro da minha satisfação de sentir o giz nos meus dedos grafando na cartolina. depois ficava com aflição do pó de giz.


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é curioso conseguir encontrar exatamente na minha mente onde mora essa sensação de lembrar que aos meus 4 anos de idade poucas coisas me deixavam mais seguro do que a professora que me alfabetizou & ter a memória totalmente visual de ler na folha escrito por mim — essa sensação mora no meu tórax, como um colete leve apoiado bem no meio do esterno, pegando os ombros e sutilmente a nuca, esta região do respirar. deve ser por isso que escrever sempre teve a ver, pra mim, com alongamento.

Tudo que existe precisa se alongar para  não cair no esquecimento. 

segunda-feira, 4 de março de 2024

um treinamento pacífico


é uma certa convicção, não sei se fria, ou pelo menos estimulada por um fio narrativo pouco acentuado recriado nesta necessidade de dizer qualquer coisa, não por um antecedente anterior ao ímpeto, mas só pelo ímpeto de escoar mesmo. esta incontinência, a virtualidade do fazer, do como fazer,  e uma fotografia amarelada praticamente total ao redor de tudo, também chamado e conhecido como um ancestral que invade a casa e estilhaça uma falta total, falta intransitiva, não é nem "de" alguma coisa, um acúmulo de líquidos, um feriado enterrado na nuca mas não não não mais. Essa caricatura a quem eu peço, ensina-me o teu sim. já dizia a outra que tudo começou com um sim e um outro que se é ele o portador do grande coração temei não partam dele as grandes negações, este ir perdendo vestes na certeza de que não há sentinela que resista à umidade de março a não ser que se consolide um treinamento pacífico não é por medo não que alguém permanece acordado. 

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Basil

analisando personagens : Basil


Basil é apresentado como um personagem arquetipicamente adorável, com uma aparência "fofa" e até mesmo afeminada, tanto em sua versão do Dream World quanto a do Real World, uma personalidade gentil e uma paixão por seus hobbies de jardinagem e fotografia que é admirável, se refugiando nos mesmos e em uma rotina calma em busca de paz e felicidade. Apesar disto, ele é provavelmente o personagem mais trágico de todo o jogo, pode parecer cruel, a princípio, querer comparar o sofrimento entre quaisquer personagens de OMORI. Pode-se deduzir que Mari e Hero sofriam com pressão parental e Kel e Sunny com possível negligência, mas ainda assim, suas famílias continuavam sendo presentes, amorosas e estáveis, mas Aubrey e Basil vieram de cenários familiares um tanto quanto complicados, Basil foi criado pela avó desde que era um bebê por seus pais estarem ocupados demais para ele, e embora sua avó seja gentil e amorosa (como se pode observar na versão demo do jogo), ele provavelmente passou por um cenário não só de abandono, mas de abusos e traumas ainda quando criança, mesmo que não seja uma informação canon ainda é algo provável, temos indícios de que Basil já tinha presenciado ou mesmo que tinha pensamentos suicidas aos 12 anos amarrar um nó de forca e o de que ele pensou em fazer com que a morte de Mari se parecesse com um suicídio, algo anormal para uma criança de 12 anos, principalmente nos anos 1990/2000 (época na qual OMORI se passa). Basil provavelmente foi abandonado várias vezes em sua vida, algo que fez com que ele tivesse um medo enorme de perder Sunny indo a extremos para que isso não acontecesse, isso também faz com que ele tenha um medo tão grande de conflito e uma auto-estima tão baixa. Forma fofa, conteúdo complexo.
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