A definição de “literatura
militante” elaborada por Lima Barreto, à sombra de Jean-Marie Guyau — pensador
que foi lido atentamente por Nietzsche —, impõe à obra literária “o
destino de revelar umas almas às outras, de restabelecer entre elas uma ligação
necessária ao mútuo entendimento dos homens”. Em nosso país, onde, segundo
Barreto, não há passado, mas só futuro, “nós nos precisamos ligar; precisamos
nos compreender uns aos outros; precisamos dizer as qualidades que cada um de
nós tem, para bem suportarmos o fardo da vida e dos nossos destinos”, dizia o
romancista. E completava, depois de excluir do seu sonho os “cavalheiros de
fidalguia suspeita” e as “damas de uma aristocracia de armazém por atacado”:
“[...] Devemos mostrar nas nossas obras que um negro, um índio, um português ou um italiano se podem
entender e se podem amar, no interesse comum de todos nós”.
Afonso Henriques de Lima
Barreto nasceu em 1881 na cidade do Rio de Janeiro. Enfrentou o preconceito por
ser mestiço durante a vida. Era sempre apontado como louco e beberrão,
socialista e neurastênico. Com o modesto salário, passa a residir com a família
em Todos os Santos, em casa simples, e na qual, em 1904, inicia a primeira
versão do romance Clara dos Anjos. No ano seguinte começa o romance Recordações
do escrivão Isaías Caminha, publicado em Lisboa em 1909.
Não foi reconhecido na
literatura de sua época, apenas após sua morte. Viveu uma vida boêmia,
solitária e entregue à bebida. Quando tornou-se alcoólatra, foi internado duas
vezes na Colônia de Alienados na Praia Vermelha, em razão das alucinações que
sofria durante seus estados de embriaguez.
Felizmente, suas obras,
romances e contos, têm sido traduzidos para o inglês, francês, russo, espanhol,
tcheco, japonês e alemão. Teses de doutoramento o tiveram como tema nos Estados
Unidos e na Alemanha. Congressos e conferências foram realizadas em todo o
Brasil, por ocasião do seu centenário de nascimento (1981), resultando inúmeros
livros publicados, entre ensaios, bibliografias e estudos psicológicos do autor
e sua obra. Há, presentemente, um desabrochar de interesse entre os novos
escritores brasileiros em favor da obra de Lima Barreto, tido como o pioneiro
do romance social, e cuja produção literária - vasta, em proporção ao número de
anos que viveu - ganha, a cada dia, o merecido destaque que lhe é devido.
Bibliografia indicada:
- A vida de Lima Barreto
Autor: Barbosa, Francisco de Assis
Editora: José Olympio
Temas: Biografia, Literatura Brasileira
Por Claudio Castoriadis
Claudio Castoriadis é Professor e blogueiro. Formado em Filosofia pela UERN. Criador do [ Blog Claudio Castoriadis ] Tem se destacado como crítico literário.Seu interesse é passar o máximo de conhecimento acerca da cultura > |