Franz Kafka nasceu em Praga a 3 de julho de 1883, cidade que durante
todos os 40 anos da vida do escritor pertenceu à monarquia austro-húngara. Filho
de um abastado comerciante judeu, Kafka cresceu sob as influências de três
culturas: a judia, a tcheca e a alemã. Formado em direito, ele fez parte, junto
com outros escritores da época, da chamada Escola de Praga. Esse movimento era
basicamente uma maneira de criação artística alicerçada em uma grande atração
pelo realismo, uma inclinação à metafísica e uma síntese entre uma racional
lucidez e um forte traço irônico. Suas obras também conseguem formalizar e
abrigar leituras totalmente relacionadas com a condição do ser humano moderno. O
olhar kafkiano é direcionado para coisas como a opressão burocrática das
instituições, a "justiça" e a fragilidade do homem comum frente a
problemas cotidianos
Kafka se referia à vida como
um instante entre dois passos, levando em conta todas as gerações que nos
precederam e todas as que virão depois de nós. No entanto, no decurso de sua
existência, todo homem e toda mulher podem viver diferentes renascimentos,
fracassos, recomeços e transformações.
Enquanto estivermos nesse mundão, qualquer coisa pode ser planejada,
experimentada, realizada. Somos um instante entre dois passos, mas esse
instante contém todas as possibilidades do mundo.
As palavras de Kafka são
sólidas ao mesmo tempo que são abstratas. Um pensamento pesado e rápido como
uma guilhotina. Como todo texto traz consigo algo não dito, o pensamento do
escritor judeu traz um arcabouço de sentidos e instantes que qualificam a vida.
Se levarmos em consideração o
instante do cotidiano de que falava Kafka, certamente podemos tirar bom
proveito do tempo experimentando com a vida, pois é possível de um simples ato
acontecer um momento especial. Não somos eternos, afirma Kafka, mas dispomos de
dias repletos de possibilidades.
Conta-se que Kafka mantinha
uma rotina ao mesmo tempo rigorosa e estranha: ao voltar do trabalho, fazia a
sesta das 15h às 19h30. Depois dava um passeio de uma hora, jantava com os pais
e escrevia até as 23h, atividade que poderia se prolongar até as 2h ou 3h da
madrugada, às vezes até mais tarde. Kafka dizia que certas leituras tinham uma
capacidade muito diferente: a de nos permitir quebrar nossa carapaça para poder
ver o que há debaixo dela:
Necessitamos dos livros que nos afetam como um desastre, que nos
afligem profundamente como a morte de alguém que amamos mais que a nós mesmos,
como estar perdido sozinho num bosque, como um suicídio.
Franz Kafka
Por Claudio Castoriadis