Um homem vem caminhando por um
parque quando de repente se vê com sete anos de idade. Está com quarenta, quarenta
e poucos. De repente dá com ele mesmo chutando uma bola perto de um banco onde
está a sua babá fazendo tricô. Não tem a menor dúvida de que é ele mesmo.
Reconhece a sua própria cara, reconhece o banco e a babá. Tem uma vaga
lembrança daquela cena. Um dia ele estava jogando bola no parque quando de
repente aproximou-se um homem e... O homem aproxima-se dele mesmo. Ajoelha-se,
põe as mãos nos seus ombros e olha nos seus olhos. Seus olhos se enchem de
lágrimas. Sente uma coisa no peito. Que coisa é a vida. Que coisa pior ainda é
o tempo. Como eu era inocente. Como meus olhos eram limpos. O homem tenta dizer
alguma coisa, mas não encontra o que dizer. Apenas abraça a si mesmo, longamente.
Depois sai caminhando, chorando, sem olhar para trás.
O garoto fica olhando para a
sua figura que se afasta. Também se reconheceu. E fica pensando, aborrecido:
quando eu tiver quarenta, quarenta e poucos anos, como eu vou ser sentimental!
Luís Fernando Veríssimo
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Claudio Castoriadis é Professor e blogueiro. Formado em Filosofia pela UERN. Criador do [ Blog Claudio Castoriadis ] Tem se destacado como crítico literário.Seu interesse é passar o máximo de conhecimento acerca da cultura > |