Philippe Aries foi um
importante historiador e medievalista francês da família e infância. Aries
escreveu vários livros sobre a vida diária comum. Seu mais proeminente trabalho
rendeu um brilhante estudo sobre a morte. No seu trabalho A história Social da
Criança e da Família, Aries demonstra que o surgimento de um discurso sobre a
infância está vinculado à emergência da percepção da especificidade do infantil
na modernidade.
Philippe Aries permaneceu
pouco reconhecido como historiador até o lançamento de “História Social da
Criança e da Família”, em 1962. O livro mereceu uma resenha de Jean Louis
Flandrin em um número dos Annales, o que tem sido reconhecido como o fato que assinalou
o final de seu isolamento da comunidade dos historiadores profissionais.
A leitura das obras de
Philippe Aries nos permite ter contato com uma produção historiográfica
notadamente ampla. Durante a década de 1960, aproveitando inúmeras viagens de
trabalho pela França e a Europa, Aries realizou um estudo sobre as atitudes dos
homens diante da morte. Iniciou suas pesquisas pelos estudos do culto aos túmulos
e aos cemitérios. Depois ampliou suas fontes para os túmulos, a iconografia e a
epigrafia funerária,visitando igrejas, museus e
cemitérios, e também para os testamentos. Em 1971, ao ser convidado para
participar de um ciclo de palestras na Universidade Johns Hopkins, uma das
universidades de maior prestígio nos Estados Unidos, sobre seu livro “O Tempo
da História”, Philippe Aries propôs trabalhar com o tema que vinha pesquisando
há anos. Assim, apresentou suas pesquisas sobre a morte em um ciclo de quatro
conferências que acabaram acontecendo no ano de 1973. Estas conferências,
depois acrescidas de outros trabalhos e sistematização deram origem ao livro
conhecido no Brasil como “História da Morte no Ocidente”.
No final de 1979, François
Furet convidou Aries para almoçar. Durante o encontro lhe confidenciou que ele
e outros acadêmicos ficavam, muitas vezes, intrigados com Aries e seu trabalho
e se questionavam quem seria ele. Na ocasião, Aries lembrou que houve um tempo
em que alguns do meio acadêmico, jocosamente, diziam que ele era “um
comerciante de bananas”. Durante este almoço François Furet, propôs a Aries entrar
para a Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, um dos principais centros
de investigação das ciências sociais na Europa. Assim, Philippe Aries, ao
morrer alguns anos após, em 1984, partiu com a convicção de que sua obra
recebera a aprovação por parte da tribo dos historiadores profissionais.
Dica de leitura
História da morte no ocidente
Nessa belíssima obra, Philippe Aries mostra o
comportamento humano diante da morte na sociedade ocidental cristã, sob o ponto
de vista histórico e sociológico, abrangendo o período que vem desde a Idade
Média- quando a morte era domesticada - até o desenlace de nossos dias, onde a
percepção social só vê o maldito, a negação absoluta. O leitor encontrará neste
livro uma pesquisa de Aries acerca da história das atitudes do homem ocidental
perante a morte.
Por Claudio Castoriadis