Defensor da teologia da libertação, o intelectual brasileiro Leonardo Boff considera Bento XVI uma
figura "de tensão e até de desunião".
O alemão Joseph Ratzinger,
hoje papa Bento XVI, é um velho conhecido do teólogo Leonardo Boff. Em setembro
de 1984, na condição de cardeal e prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé
– novo nome dado ao antigo tribunal da Inquisição –, Ratzinger conduziu o
interrogatório que culminou com a condenação de Boff a um ano de “silêncio
obsequioso”, em razão de suas teses ligadas à Teologia da Libertação,
apresentadas no livro "Igreja: Carisma e Poder”.
Na época, Boff foi obrigado a
sentar-se na mesma cadeira que Galileu Galilei sentou 400 anos antes. E escutou
de Ratzinger as seguintes palavras: “Eu conheço o Brasil, aquilo que vocês
fazem nas Comunidades Eclesiais de Base não é verdade, o Brasil não tem a
pobreza que vocês imaginam, isso é a construção da leitura sociológica,
ideológica, que a vertente marxista faz. Vocês estão transformando as
Comunidades Eclesiais de Base em células marxistas”.
Dom Paulo Evaristo Arns, que
acompanhava Boff no tribunal, retrucou no momento apropriado. Referindo-se a um
documento que, havia saído três dias antes, condenando a Teologia da
Libertação, disse: “Cardeal Ratzinger, lemos o documento e ele é muito ruim.
Não o aceitamos porque não vemos os nossos teólogos dizendo e pensando o que o
senhor diz da Teologia da Libertação. Se quero construir uma ponte, chamo um
engenheiro, e o senhor, para construir a ponte, chamou um gramático, que não
entende nada de engenharia”.
Não é de hoje que o intelectual
Leonardo Boff abraçou a ideia de uma teologia, prática, próxima do povo e da
caminhada das comunidades. A chamada Teologia
da Libertação que nasceu ouvindo o grito dos pobres e excluídos.
Mas essa teologia também se
choca com oposições. As mais violentas vêm dos poderes econômicos, políticos e
militares da América Latina, assim como nos EUA. Mas também vêm de católicos
que a acusam de fazer referência, ao analisar certos aspectos da pobreza, à
teoria da dependência, que usava noções provenientes da análise marxistas.
"A teologia da libertação
pode até desaparecer"[...] "mas, se restar a preferência pelos pobres, nós
teremos vencido algo importante, profundamente ligado à Revelação". "A
pobreza e as suas consequências são sempre o grande desafio do nosso tempo na
América Latina e em muitos outros lugares do mundo. Praticar a justiça,
trabalhar pela libertação dos seres humanos é falar de Deus. É um ato de
evangelização". Afirma o Dominicano
peruano Gustavo Gutiérrez, um dos teólogos mais importantes do século XX.
Por Claudio Castoriadis