A
Pequena Vendedora de Fósforos, curta-metragem de animação, presenteia as almas
mais sensíveis baseado no conto de Hans Christian Andersen (1805-1875),
escritor e poeta dinamarquês. A Pequena Vendedora de Fósforos se trata de uma
breve e bela história sobre uma garota pobre que busca na venda de seus
fósforos um meio de sobrevivência. O diretor Roger Allers chegou a declarar que
quando criança, não conseguia chegar ao fim desse conto sem chorar. Hans Christian
Andersen, consagrado por obras primas dos contos infantis como O Soldadinho de
Chumbo (Publicado nesse blog) e A Pequena Sereia, teve mais uma de suas belas
histórias contada em forma de filme. O curta de aproximadamente 7 minutos é de
uma sutileza incomensurável.
A
Pequena Vendedora de Fósforos- Hans Christian Andersen (1805-1875)
Fazia um frio terrível; caía a
neve e estava quase escuro; a noite descia: a última noite do ano. Em meio ao
frio e à escuridão uma pobre menininha, de pés no chão e cabeça descoberta,
caminhava pelas ruas. Quando saiu de casa trazia chinelos; mas de nada
adiantavam, eram chinelos tão grandes para seus pequenos pézinhos, eram os
antigos chinelos de sua mãe. A menininha os perdera quando escorregara na
estrada, onde duas carruagens passaram terrivelmente depressa, sacolejando. Um
dos chinelos não mais foi encontrado, e um menino se apoderara do outro e
fugira correndo. Depois disso a menininha caminhou de pés nus - já vermelhos e
roxos de frio.
Dentro de um velho avental
carregava alguns fósforos, e um feixinho deles na mão. Ninguém lhe comprara
nenhum naquele dia, e ela não ganhara sequer um níquel. Tremendo de frio e
fome, lá ia quase de rastos a pobre menina, verdadeira imagem da miséria! Os
flocos de neve lhe cobriam os longos cabelos, que lhe caíam sobre o pescoço em
lindos cachos; mas agora ela não pensava nisso. Luzes brilhavam em todas as
janelas, e enchia o ar um delicioso cheiro de ganso assado, pois era véspera de
Ano-Novo.
Sim: nisso ela pensava!
Numa esquina formada por duas
casas, uma das quais avançava mais que a outra, a menininha ficou sentada;
levantara os pés, mas sentia um frio ainda maior. Não ousava voltar para casa
sem vender sequer um fósforo e, portanto sem levar um único tostão. O pai
naturalmente a espancaria e, além disso, em casa fazia frio, pois nada tinham
como abrigo, exceto um telhado onde o vento assobiava através das frinchas
maiores, tapadas com palha e trapos. Suas mãozinhas estavam duras de
frio.
Ah! bem que um fósforo lhe faria
bem, se ela pudesse tirar só um do embrulho, riscá-lo na parede e aquecer as
mãos à sua luz!
Tirou um: trec! O fósforo lançou
faíscas, acendeu-se. Era uma cálida chama luminosa; parecia uma vela pequenina
quando ela o abrigou na mão em concha...
Que luz maravilhosa!
Com aquela chama acesa a
menininha imaginava que estava sentada diante de um grande fogão polido, com
lustrosa base de cobre, assim como a coifa. Como o fogo ardia! Como era
confortável!
Mas a pequenina chama se apagou,
o fogão desapareceu, e ficaram-lhe na mão apenas os restos do fósforo queimado.
Riscou um segundo fósforo.
Ele ardeu, e quando a sua luz
caiu em cheio na parede ela se tornou transparente como um véu de gaze, e a
menininha pôde enxergar a sala do outro lado. Na mesa se estendia uma toalha
branca como a neve e sobre ela havia um brilhante serviço de jantar. O ganso
assado fumegava maravilhosamente, recheado de maçãs e ameixas pretas. Ainda
mais maravilhoso era ver o ganso saltar da travessa e sair bamboleando em sua
direção, com a faca e o garfo espetados no peito!
Então o fósforo se apagou,
deixando à sua frente apenas a parede áspera, úmida e fria.
Acendeu outro fósforo, e se viu
sentada debaixo de uma linda árvore de Natal. Era maior e mais enfeitada do que
a árvore que tinha visto pela porta de vidro do rico negociante. Milhares de
velas ardiam nos verdes ramos, e cartões coloridos, iguais aos que se vêem nas
papelarias, estavam voltados para ela. A menininha espichou a mão para os
cartões, mas nisso o fósforo apagou-se. As luzes do Natal subiam mais altas.
Ela as via como se fossem estrelas no céu: uma delas caiu, formando um longo
rastilho de fogo.
"Alguém está morrendo",
pensou a menininha, pois sua vovozinha, a única pessoa que amara e que agora
estava morta, lhe dissera que quando uma estrela cala, uma alma subia para
Deus.
Ela riscou outro fósforo na
parede; ele se acendeu e, à sua luz, a avozinha da menina apareceu clara e
luminosa, muito linda e terna.
- Vovó! - exclamou a criança.
- Oh! leva-me contigo!
Sei que desaparecerás quando o
fósforo se apagar!
Dissipar-te-ás, como as cálidas
chamas do fogo, a comida fumegante e a grande e maravilhosa árvore de Natal!
E rapidamente acendeu todo o
feixe de fósforos, pois queria reter diante da vista sua querida vovó. E os
fósforos brilhavam com tanto fulgor que iluminavam mais que a luz do dia. Sua
avó nunca lhe parecera grande e tão bela. Tornou a menininha nos braços, e ambas
voaram em luminosidade e alegria acima da terra, subindo cada vez mais alto
para onde não havia frio nem fome nem preocupações - subindo para Deus.
Mas na esquina das duas casas,
encostada na parede, ficou sentada a pobre menininha de rosadas faces e boca sorridente,
que a morte enregelara na derradeira noite do ano velho.
O sol do novo ano se levantou
sobre um pequeno cadáver.
A criança lá ficou, paralisada,
um feixe inteiro de fósforos queimados. - Queria aquecer-se - diziam os
passantes. Porém, ninguém imaginava como era belo o que estavam vendo, nem a
glória para onde ela se fora com a avó e a felicidade que sentia no dia do
AnoNovo.