quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

um adolescente vestido de David Lynch




algumas observações preliminares: 

você precisa considerar o passado como um instante descontraído — uma voz pedindo pra alguém puxar a cordinha — frequentes mudanças de endereços — comportamentos não saudáveis — o virtuosismo técnico do vizinho bastante motivado trocando o filtro de água da nossa cozinha  — um coelho — apavorado com o barulho da plateia — justificando o truque de cartas mal sucedido — com a ajuda de um voluntário da plateia
       
uma das expressões preferidas de Smerdiakov quando interessado  por alguma notícia, segundo Anna Grigóevna:  não esqueças nada. tudo por ordem.  detalhes, o principal são os detalhes. por gentileza.

um rosto familiar na festa de formatura entediante do seu primo de NovaJersey, cuja identidade é mantida sob sigilo absoluto. palavras em manutenção que se acumulam onde termina o andar térreo do seu bloco de notas improvisado com grampos de cabelo na volta do trabalho.

a eficácia verdadeiramente revolucionária que permite impulsionar ações comunicativas no módulo grindcore avançado como sistema operante na inclusão do outro privilegiando a constituição do espaço excedido em graus diferentes de empatia: sua chamada está sendo encaminhada para a caixa de mensagens e estará sujeita a cobrança após o sinal. 

um adolescente vestido de David Lynch [sic] escrevendo sobre a própria cova com mostruários de cartões postais e marcadores de livros, com as iniciais 5/2 da Estação Thin Lizzy, repartindo uma barrinha de cereal na esplanada do café com seu amigo vestido de adolescente que também escreve sobre a própria cova: Carlos, agora, estamos entrando em território inimigo, o que não é bem nossa praia. temos que tomar precaução. seguir o protocolo. tudo que nos cerca, nos condiciona sem direito de resposta. as coisas quase nunca são o que aparentam ser. o leite desnatado se disfarça de creme.

li em algum livro que o passado é feito de histórias e que histórias são pequenos pontos geográficos untados no universo num mesmo plano com outro enquadramento. a Poeta estadunidense Muriel Rukeyser reforça essa tese quando afirma que o universo é feito de histórias, não de átomos. o Filósofo Santo Agostinho, em suas confissões, revela que o passado subsiste somente no espírito do homem e que ele é feito de histórias. Iran Willame, em última análise, diria: nenhuma das alternativas anteriores estavam corretas.

você precisa considerar o passado como uma longa história sem direito a prova dos noves, pontos geográficos não sepultados, transistores em cascata que se deduzem uns dos outros convergindo em algum momento sem graça do universo, ou um séquito de elevadores sem extintores de incêndio em busca da plaquinha exit, way out.


by: claudio castoriadis
imagem: fonte web




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