terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Ser-com-os-outros


Você tem certeza de quem é você? Até aqui tudo bem, quanto aquele? Sim, o outro que não é você? Não seria você retrucando outro que não seja sua pessoa? Complicado né verdade? Problematizar um mundo (pessoa) exterior da sua zona de conforto.

Ao mesmo tempo que temos o advento da modernidade, instaura-se a era do sujeito pensante, ( penso logo existo, existo logo sou) patente sobre a qual se erigiria todo e qualquer conhecimento objetivo. Inaugurado por Descartes e, ainda, prevalecente até os dias atuais, a noção de um eu como agente imparcial donde brotam todas as proposições acerca do mundo, pode ter custado um preço relativamente caro para toda a humanidade.

Pode-se dizer que são motivos como esses que conduziram o pensamento contemporâneo por caminhos inusitados. Com isso, instaura-se na contemporaneidade, a era dos dicotômicos.

O pensamento deve de outro modo se conduzir. Para tal, questões como os limites do pensamento científico, o alcance, sentido e formação da linguagem e, não diferente, a figura do outro, tornam-se centro vital de todo discurso. Dentre essas, destacamos como referência de nosso discurso o problema do outro.

Sabe-se que desde os primórdios da humanidade, a figura do outro é apresentada como elemento indispensável na construção de qualquer forma de organização social ou política. Em breves palavras, não existem eus sem outros.

A transformação do seu "eu" social não pode ser examinado adequadamente sem visar com igual perspicácia o conhecimento do outro. Entretanto, somente na contemporaneidade torna-se, o outro, o centro de uma investigação filosófica, não mais se recolhendo à condição de subentendido ou pressuposto para outras questões.


 
Por Claudio Castoriadis
Imagem: fonte web

Celular


Carregador que carrega um celular
Não carrega a dor de quem espera
Uma chamada.


Por Claudio Castoriadis
Imagem; fonte web

sábado, 25 de janeiro de 2014

Alhures por entre algures


O loucura fala
Pelos moveis da casa,
No criado mudo da sala
Zela e alumia os caminhos


Passagens que nos fascinam
impressionável pergaminho

Grita uma montanha de estalactites,
Ondas sonoras de estalagmites;
Intimidade, delineada no vazio,
Vasto vislumbre,
Transcendência do nada,
Que pode ser algo, outra coisa,
Coisa linda de se ver

Alhures por entre algures
Córregos perfumados
Por penumbra e clarões:
Faz-se presente
Na ausência do principio
Que o verbo traga do advérbio
Uma oração vicissitude do cuidado



Por Claudio Castoriadis
Imagem: fonte web

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

O mar, o barco e a torneira

Com poucos barcos se faz um mar, talvez bem menos, quando se aprende que todo prefácio criacionista da margem para outro começo evoluindo, um mar inteiro, aberto para um passeio, dilatando, matutando o que advém da imagem representação encabulada nos meandros do azul candente azulado com os peixes no incauto dos passos, dinâmicos aflorando orvalhos incandescentes no então oceano; deleitemos reverberando a luz do dia. Visto de cima o mar parece um aquário encalhado, as ondas emaranhados na rede, o cais lembra um alambrado abarrotado de peixes dourados; visto de cima tudo é tranquilo, até chego a pensar no que tinha esquecido, pessoas, veleiros, barcos a vela, pensamentos, tecidos, lembranças e ruídos.

De longe, o mar parece maior, de perto muito maior, grande imensurável, incomensurável na medida do limite do meu pensamento, à deriva, peregrina, o perigo que periga encaixotado sem rumo, na pior das hipóteses, escava, chacoalha um bocado, com circunspecção as águas - não se pode falar quando se aprofunda ralando nas camadas necrológicas, alcaloides.

De uma torneira pinga um dilúvio, choradeira marinha, tartaruga e submarino; peixe saboneteira, tubarão fora d’água, volta e meia meia volta, volver -  Quatro, quinto de todos os cilindros no silêncio galopado por cavalos marinhos. O tempo é laçado numa pedra ancorada, outrora não é, não será, do passado não passa; pessoas são nadadoras e somente vida, nada de dores.

Por Claudio Castoriadis
Sobre o Autor:
Claudio Castoriaids Claudio Castoriadis é Professor e blogueiro. Formado em Filosofia pela UERN. Criador do [ Blog Claudio Castoriadis ] Tem se destacado como crítico literário.Seu interesse é passar o máximo de conhecimento acerca da cultura >

Reflexões de uma goiabeira


Quando a noite cansa de segurar a lua, faço de bom grado, do meu pensar uma cartolina, onde se deixa, e se arrisca um rabiscado de linhas vesgas, uma casinha com cerquinha, pontes, vilarejos, cachorrinhos, gatos, patos, galinhas e pintinhos que lexotam pessoas, amigos e vizinhos talhados por um atalho arranjado com estrelas, constelação de cores, um vasto céu de areia onde a lua pode brincar, minguar e migrar.

Existir é ser bem mais que um potinho, recheado de afetos, ternura, açúcar, adoçante, café, cafeteira, lanche, merendeira; ser alguém não é ser a mesma coisa durando a vida inteira, seja figura, figurante, álbum de figurinha amassado no envelope.

Eu poderia ser real, certamente sou um conto proseado; outrem, fulano ou sicrano um sonho de alguém esquecido no travesseiro. Metade, reta, metalinguagem, esquadro, sou um sonho, parte integrante do processo artístico e infantil da minha existência, ser ou não ser - essa não é a questão, um tantinho inquestionável desacerto, referencial que anda desajeitado informal.

A quem interessa, a natureza do sonho adora se esconder, debaixo das folhas da goiabeira, no sorriso abirobado, na primeira camada do rímel do cílio clareado de beleza, rodopiando na sopinha de letrinha, no segundo sono velado pela clareira de uma vela que deseja nostálgico um futuro sonolento.

Ah, saudades, de quando eu era apenas uma goiaba, gabiroba, guariroba; hoje parodiado, parafraseado, aliterando, sou a sombra do sonho aliterações de uma goiabeira. 



Por Claudio Castoriadis
Imagem: fonte web
Sobre o Autor:
Claudio Castoriaids Claudio Castoriadis é Professor e blogueiro. Formado em Filosofia pela UERN. Criador do [ Blog Claudio Castoriadis ] Tem se destacado como crítico literário.Seu interesse é passar o máximo de conhecimento acerca da cultura >

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Soletrando Falácias


certas incertezas sazonam falácias
certezas soletrando suas dúvidas
duráveis, indubitáveis, duvidáveis

depois dos pais temos os filhos
outros papais mães e irmãos

tocando o toque de recolher e recolher semente
pra recomeçar, erguendo outro mundo pra gente

se refazendo circense, despropósito propositalmente
amanhecendo, cambiando, aliterando, andrajoso
na grama fidalgo gramática no ribeiro e grinalda




Por Claudio Castoriadis
Imagem: fonte web

Sobre o Autor:
Claudio Castoriaids Claudio Castoriadis é Professor e blogueiro. Formado em Filosofia pela UERN. Criador do [ Blog Claudio Castoriadis ] Tem se destacado como crítico literário.Seu interesse é passar o máximo de conhecimento acerca da cultura >

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Dentro de uma caixinha


É triste viver e ver o fim começando
De vez em quando, em poucos mundos
Projeto, contemplo uma pouquinho
Vacilando e oscilando, acreditando
Que o ontem desata no hoje
Que o futuro de longe é perto

Deixo a sorte me acertar
Um pensamento repousar
Na palma da minha mão
Ciciando uma oração
Canção que ressoa
A fala interior de dentro
No centro,
Nadando nos córregos
Do chão que chove 
Não molha, nem respinga
Um pingo, um ponto no acento
Onde senta seu perfume


E quando a tristeza chega
De mansinho
 Manhosa feito borboletinha
Minha poesia concreta
Se faz líquida nos meus olhos
Apertados, dentro de uma caixinha
Onde guardo brinquedos,
Ruguinhas, meus pecados
Com lencinho de neon.


Por Claudio Castoriadis
Imagem: eu mesmo
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Claudio Castoriaids Claudio Castoriadis é Professor e blogueiro. Formado em Filosofia pela UERN. Criador do [ Blog Claudio Castoriadis ] Tem se destacado como crítico literário.Seu interesse é passar o máximo de conhecimento acerca da cultura >

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Rodrigo Amarante: pegada romântica, amparando no desamparo do tempo


Instigante essa pegada romântica, amparando no desamparo do tempo, piegas no bom e vistoso sentido melancólico chique. Gosto do Rodrigo Amarante, por isso, isto e aquilo. Suas canções estão ligadas à ótica pessoal, bem pessoal mesmo, propriamente dito. Falar em batida inter-caixa-sonora, significa observar a fase sartreana que ele anda passando. Verdade, ele sempre está nesse retrato. 

Rodrigo Amarante, liberou na internet o seu primeiro álbum solo, Cavalo. As músicas podem ser ouvidas gratuitamente, basta chegar e da uma embaixadinha via streaming ou pelo iTunes.



Por Claudio Castoriadis
Imagem: via web

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Ana Larousse: o fenômeno dos sentimentos se confunde com o fluxo da música.

Muitas sardinhas, alergia a gatos, lavanda pela casa toda e uma coleção de coringas de baralho. Sempre sonho que a Gestapo está vindo me prender, tenho medo de avião e de multidões, é difícil me tirar de casa, gosto de viajar sozinha, não leio jornais porque não sei lidar com notícias feias. Bebo chá o dia todo, acho maluco existir, gosto de desenhar janelas e nuvens, já tive banda punk, guardo palitos queimados de volta na caixinha e sou doidinha por mapas e dicionários. Coleciono tempestades, vulcões e histórias de amor.

Desde pequena, eu guardava minhas bagunças em cadernos e mais cadernos. Fazia de cada dor e sorriso um poema. Comecei a estudar violão aos 10 anos e, em bandas de rock, comecei a jogar meu mundo em canções. Aos 19, deixei os gritos nas garagens de Curitiba para cantar baixinho lá na França. Foi na melancolia que carrega cada rua de Paris, que eu encontrei suavidade e leveza para cantar minhas ausências.


Ana Larousse

Até em uma sua apresentação, a cantora não faz economia de gotículas sentimentais revelando em cada linha do seu pensamento a brandura que desbrava uma beleza que apraz sua pequena, longa, vistosa trajetória.

O fenômeno dos sentimentos se confunde com o fluxo da música. Talvez, poderia ser assim, mais seguro perguntar quando a estética musical retratou um sentimento, aquele sentimento - uma bolha de afetos. Não sei definir a prosa da Ana Larousse; um pedaço compartilhado da sua voz não tarda para um discurso poético, já que, restituindo os pontinhos aqui, outros bem lá, ela esbarra de mansinho nos versos designados para fazer pirraça com o sentido primário da linguagem.

Com a palavra ou seria com a poesia? Melhor, tudo e mais coisas interligadas. Todo mundo pousa um sonho antes de ser sonhado, um tempinho, instantes antes de deitar a alma. Esses detalhes a poetisa lida com ternura e travessuras. Significante e significado trabalhado com charme.
 
Pode ser que essa resenha tenha uma verve utópica; construida por uma mente primitiva - ainda em formação - que ainda toma o susto com o brinde da vida; ou talvez lembre uma oração auto biográfica, mas, as palavras são assim -  dançam de acordo com a música.

Fica a dica, indicada para a limpeza do espírito



Por Claudio Castoriadis
Imagem: fonte web
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sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Versos para dois na mesma geladeira


Fico feliz por não acreditar em muitas coisas; cético de mim, sei que pouco nada sei o que deveras importa, as coisas são cafonas, as coisas estão fora de moda, de modo que o sentido não está nas coisas muito menos comigo. Não tenho tempo pra pressa, as coisas são apressadas, apertadas e empacotadas num conjunto infindável de mundos mundanos percorrendo o pequeno universo piegas fracionado numa eterna luta dos inversos.

Certas coisas são assim, coisificadas. Prefiro as simplificadas, os brotinhos, das sementes de alecrim, é meigo a força das sementes que um dia serão douradas, perfumadas. Caminhar no céu é um barato, sentir as pontinhas dos dedinhos esfriando, gracejando os pelinhos ventilados pelo vento, que sopra a leveza do pensamento pelejando contra o cimento do sentido, colegas dos outros sentidos contidos no meu cantinho que tem palmeiras onde canta um sabe lá.

Não uso gravata, antes açúcar com jasmim escutando uma flauta doce depois de um chá, de cadeira, mesa, casa de areia, cantiga popular esparramada embaixo do edredom, versos para dois na mesma geladeira. 




Por Claudio Castoriadis
Foto: minha gatinha
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quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Para Elisa (Für Elise)

Olhos para ver a chão
Que apazigua a retina;
Sente-se escorrer
Cá p’ra lá
Voltar e torna.

Alegria: és tu uma força, que gira sobre si mesma
Faz a terra girar, ressoa nas estrelas; inflando-se
Com a mesma destreza, bendita unção, paralisa
Uma mente que não escapa do jugo em comum
Convosco.

Liberte-se, idade do tempo no tempo
Céu da boca pra fora; cálice acabado
Um mundo desbordante de bendições.



Por Claudio Castoriadis
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sábado, 4 de janeiro de 2014

Uma breve consideração sobre a vida


Acredito e sinto que cada partícula da vida é maior que qualquer dor, sofrimento e desamparo. Devemos capturar, acolher, acreditar nas formas da existência. Não somos precisamente ligados nessa frequência?

Estamos aqui para pensar, vivenciar aquilo que continuamente inspira a vida. Todos estamos em processo de situação; situarmos um firmamento para o ciclo que marcha todas as circunstâncias. Toda força para aqueles que sabem deixar a vida generosamente acontecer, ser. Antes de qualquer coisa abençoando-a.

Vida; ao mesmo tempo incompreensível, chocante, enigmática. A vida suspende o obscuro, indeterminada, poeticamente circunscrita e sagrada - inesgotável. Sem fim nem começo o encantamento é aquilo que devemos sempre abençoar.

O sentimento de luto pode até ser cortante, mas, temos que seguir caçoando, proseando e amando o momento das nossas flores nesse jardim no tempo.  




Por Claudio Castoriadis
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quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

A noite que Iran Willame em 2002 roubou a cena no antigo Calimar com bastante carisma e vibração. Primeira apresentação da Banda "Dona Neta" no Festival promovido pela 96FM


A primeira apresentação de uma banda geralmente faz jorrar uma adrenalina amplificada nas veias dos integrantes. Plateia gritando loucamente, como se sua vida dependesse daquilo. Era um festival, muitas bandas selecionadas; tínhamos conseguido pela primeira vez! Em nossos rostos havia um sorriso estampado. No camarim, minutos antes da nossa apresentação eu, cabelo crespo, semblante sério, fechava os olhos para me concentrar nas letras - nada se compararia, nada superaria a sensação de estar no palco. Também em silêncio o baixista (Jandilson Dias) se encarregava da montagem dos equipamentos, bem no chão se encontrava o baterista, meu primo, já sem camisa, fazendo flexões. "Relaxa primo, vai da certo" falava Iran batendo nas paredes com suas baquetas. Às vezes eu imaginava aplausos, não muitos, mas, o suficiente para me fazer sorrir. Chegando no palco, primeiro acorde, muita distorção, som alto, em seguida nosso baterista roubava a cena, executando uma apresentação profissional, coreografias  versáteis, cabelo solto e jogado no rosto, tudo isso terminando com um sorriso de quem estava se divertindo.

Enfim, o começo de nossas vidas!

Iran Willame ( 1985-2013)


Por Claudio Castoriadis
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